Modelos Epidemiol Ogicos SIR E SIS Discretos Estudo Dos Modelos . - UBI

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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIORCiênciasModelos Epidemiológicos SIR e SIS DiscretosEstudo dos modelos e elaboração de uma ação de divulagaçãona área da BiomatemáticaVersão final após defesaRabilde de Fátima Manuel BartolomeuDissertação para obtenção do Grau de Mestre emMatemática para Professores(2o ciclo de estudos)Orientador Cientı́fico: Prof. César Augusto Teixeira Marques da SilvaCovilhã, junho de 2018

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS Discretosii

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS DiscretosDedicatóriaAos meus queridos pais, Rogério Bartolomeu e Maria de Fátima V. J. Manuel quetudo têm feito por mim.iii

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Modelos Epidemiológicos SIR e SIS DiscretosAgradecimentosTudo o que sou são obras das mãos de Deus e sem Ele nada do que alcancei seriapossı́vel. Ele tem sido meu auxı́lio, minha fortaleza e socorro bem presente naangústia, por isso agradeço ao meu Senhor, Deus Pai, Todo Poderoso pela suainfinita misericórdia que me tem feito trilhar caminhos excelentes. Contudo, Eleainda colocou pessoas maravilhosas para me abençoarem. Assim, não teria trilhadoestes caminhos se não contasse com a ajuda de tantas pessoas que contribuiram paraa minha formação. Elas são incontáveis, mas gostava de ao menos citar algumasdelas.Agradeço aos meus queridos pais, Rogério Bartolomeu e Maria de Fátima Vicente João Manuel, que lutam todos os dias para o bem dos seus filhos, que desdemuito cedo nos transmitiram que é necessário estudar e dedicar-se ao máximo paraque no fim a recompensa chegue, e que impulsionaram a minha vinda para Portugal, a eles a minha profunda gratidão. Aos meus queridos irmãos, Bartolomeu,Anselmo, Jacinto, Inoreza,Gervásia(in memory), Valsino, Isolda, Romaide, Gelsa,Ilvano, Anália, Valério, Belmiro e Fascénia que mesmo distante os sinto tão próximosque com o seu carinho me dão força para continuar, aos meus familiares em gerale aos meus queridos amigos,Filipe José que nunca mede esforço para ajudar-me eque muito me incentiva a crescer, Manuela Luciana que sempre esteve do meu lado,Hélder Lubuato, Antónia Dias, Josina Alexandre e Edna Kidiaca pelo apoio incondicional em diversas fases da minha vida. Ao meu esposo, Esmael Zage, pelo seuapoio sem medida no decorrer destes todos anos.O meu agradecimento vai à Direção do INAGBE que me concedeu esta bolsa deestudo, dando-me a oportunidade de conhecer um povo, uma cultura e adquirir obem que ninguém pode tirar de mim, o conhecimento. À Escola Superior Politécnicade Malanje, na pessoa do então diretor Jacucha Quimbanda, e ao professor InfelizCoxe por me terem colocado na lista dos candidatos à formação em Portugal. Aosmeus padrinhos Manuel Osório e Etelvina Osório. Agradeço também à Universidadeda Beira Interior que no seu leque de docentes e não docentes, nos proporcionou momentos singulares do saber, pelos conhecimentos adquiridos. Em particular à Prof.aSandra Vaz por tudo que me ensinou e ao meu tutor Prof. César Silva que não doouapenas o seu saber mas também a sua atenção, preocupando-se com o bem-estar dosseus orientandos nos dias menos bons e que com o seu zelo e afinco me fez aprenderainda mais e com vontade de continuar na busca pelo conhecimento. Aos meus colegas do curso de Matemática para Professores que dividiram os seus saberes e tempocomigo, disponibilizando-se para juntos ultrapassarmos as dificuldades encontradasdurante o tempo de formação.v

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS DiscretosA minha gratidão estende-se ao senhor João Cambolo, Humberto Lopes, Andreia Malheiros e Afonso Konde, bem como aos meus colegas de serviço que comseu tempo, atenção e disponibidade estenderam as mãos para me ajudarem. Somosseres passı́veis de erro, quero desde já pedir as minhas sinceras desculpas a todosque não citei, mas que de igual modo são merecedores da tamanha honra por tudoque fizeram por mim.a todos a minha eterna gratidão!vi

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS DiscretosResumoNeste trabalho, começamos por estudar alguns dos resultados fundamentais sobreestabilidade de sistemas de equações às diferenças, os quais se empregam no estudoda estabilidade local dos pontos de equilı́brio de modelos SIR e SIS autónomos, dicretizados com recurso ao método de Mickens. Além disso, estabelecemos, para osmodelos anteriores, a estabilidade global do ponto de equilı́brio sem doença quandoR0 1 e, adaptando ao nosso contexto uma técnica já utilizada para modelosdiscretizados com o método de Euler, obtemos, em condições pouco exigentes, estabilidade global do ponto de equilı́brio endémico quando R0 1. De seguida,verificamos a existência de uma órbita periódica para um modelo SI com taxa deincidência periódica, discretizado pelo método de Euler. Quando o modelo se reduza um modelo autónomo, garantimos a estabilidade global do ponto de equilı́brioendémico.Na última parte do trabalho, tecemos alguns comentários sobre a preparação departe de uma ação de divulgação em matemática, subordinada ao tema “AlgunsModelos Discretos da Biomatemática” realizada no contexto da Academia Júniorde Ciências da Universidade da Beira Interior.Palavras-chaveModelos epidemiológicos SIR e SIS; Estabilidade local; Estabilidade global; Modelo periódico; Divulgação da Matemática.vii

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS Discretosviii

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS DiscretosAbstractIn this work, we study some of the fundamental results concerning stability systemsof difference equations and we use them to study the local stability of equilibriumpoints of autonomous SIR and SIS models, discretized by the Mickens method.Moreover, for the referred models we establish global stability of the disease freeequilibrium when R0 1 and, using in our context a technique already consideredfor models discretized by the Euler method, we obtain global stability of the endemicequilibrium point when R0 1. Next, we establish the existence of a periodic orbitfor an SI model with periodic incidence, discretized by the Euler method. Whenthe model is reduced to an autonomous model, we obtain the global stability of theendemic equilibrium.In the last part of this work, we make some comments on the preparation ofpart of an action of dissemination of mathematical knowledge, under the theme“Some discrete models of biomathematics” done in the context of Junior Academyof Science of University of Beira Interior.KeywordsSIR and SIS epidemiological models; Local stability; Global stability; Periodicmodel; Dissemination of mathematical knowledge.ix

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS Discretosx

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS DiscretosÍndiceIntrodução11 Sistemas de Equações às Diferenças51.1 Definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51.2 Matrizes e transformações lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .71.3 Estabilidade de sistemas lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101.4 Estabilidade por aproximação linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121.5 Atratores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 Modelos SIR e SIS152.1 Modelo SIR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152.1.1Discretização pelo Método de Mickens . . . . . . . . . . . . . 152.1.2População Total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172.1.3Pontos de equilı́brio e estabilidade local . . . . . . . . . . . . . 192.2 Modelo SIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 242.2.1Discretização pelo Método de Mickens . . . . . . . . . . . . . 242.2.2População Total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 252.2.3Pontos de equilı́brio e estabilidade local . . . . . . . . . . . . . 253 Estabilidade Global nos modelos SIR e SIS293.1 Estabilidade global do equilı́brio sem doença no modelo SIR . . . . . 293.2 Estabilidade global do equilı́brio endémico no modelo SIR. . . . . . 313.3 Estabilidade global no modelo SIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 364 Modelo SI com incidência periódica394.1 População total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 394.2 Existência de um atrator global contendo uma órbita periódica . . . . 405 Um projeto de divulgação475.1 Academia Júnior de Ciências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 475.2 Ação de divulgação em Biomatemática . . . . . . . . . . . . . . . . . 47Bibliografia51i

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS DiscretosA Anexo - Slidesii53

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS DiscretosIntroduçãoOs modelos epidemiológicos SIR e SIS são estudados desde que se começaram aconsiderar modelos compartimentais para descrever a evolução de uma doença contagiosa no seio de uma população, tanto em tempo contı́nuo como em tempo discreto. Em diversas épocas, a humanidade foi assolada por epidemias, como porexemplo a peste negra (1343 1353) que resultou na morte de 75 200 milhões depessoas, a varı́ola (430 A.C) estima-se que reduziu a população para dois terçose o sarampo que ainda hoje se verifica. Essas são apenas algumas das doençasque dizimaram inúmeras vidas ao longo do tempo. Compreender a evolução e ascondições de contágio de epidemias ajuda a minimizar o número de vı́timas. Destaforma, basear-se em modelos matemáticos para entender e, na medida do possı́vel,minimizar os efeitos de uma epidemia é muito interessante.A Matemática aplicada à Biologia tem atraı́do a atenção dos estudiosos já háalgum tempo. O primeiro registo sobre este assunto é atribuı́do a Johnn Graunt(1620 1674) quando publicou em 1662 o trabalho “Natural and Political Observations upon the Bills of Mortality”, com isto também constituiu as bases para ademografia. Passado quase um século (1760) Daniel Bernoulli, submeteu à Academia de Ciências de Paris um trabalho intitulado “An attempt at a new analysis ofthe mortality caused by smallpox and of the advantages of inoculation to preventit”, mas que foi publicado apenas em 1766. Neste trabalho, foi discutido se a inoculação de um vı́rus deve ser encorajada mesmo que haja uma possibilidade de seruma operação mortal. Bernoulli ressaltou a idade dos indivı́duos envolvidos e designou por S(x) o número de pessoas suscetı́veis que estão vivas na idade x sem nuncaterem sido infetadas com a varı́ola, por R(x) o número de pessoas que estão vivasna idade x e que sobreviveram à doença e por P (x) o número total de pessoas vivasna idade x. Alguns anos mais tarde, ao estudar a malária, a fim de descobrir comoera feita a transmissão aos seres humanos, Ross (1911), tentou construir modelosmatemáticos da transmissão desta doença, a fim de apoiar uma afirmação feita naprimeira edição do seu livro, onde dissera que a malária poderia ser erradicada simplesmente reduzindo o número de mosquitos. Um dos seus modelos consistia numsistema de duas equações diferenciais, onde as variáveis eram N, a população totalde humanos de uma determinada área, I(t), o número de humanos infetados coma malária no tempo t, n, a população total de mosquitos (que supõe constante),1

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS Discretosi(t), o número de mosquitos infetados com malária, b, a frequência da picada demosquitos, p, a probabilidade de transmissão da malária de humanos para os mosquitos (o inverso também é aplicável) durante a mordida, a, a taxa de humanos quese recuperaram da malária, e M, a mortalidade dos mosquitos. Ross em conclusãodefendeu a modelação matemática em epidemiologia, dizendo que toda a epidemiologia, preocupada com a variação da doença periodicamente ou de um lugar parao outro, deve ser considerada matematicamente, uma vez que envolve variáveis quepodem ser consideradas cientificamente. Com muitas novas ideias, Anderson GrayMckendrick em 1926, no artigo “Applications of mathematics to medical problems”,introduziu um modelo matemático de tempo contı́nuo para epidemias que levou emconsideração aspetos estocásticos de infeção e recuperação, assim apresentou as classes de indivı́duos sucetı́veis (S), infetados (I) e recuperados (R), que constituem omodelo SIR. Mais tarde, junta-se a William Ogilvy Kermack e passam a trabalharjuntos em modelagem matemática em epidemiologia, eles publicaram uma série decontribuições à teoria matemática da epidemiologia a partir de 1927. Nestas contribuições estudaram determinados modelos epidémicos. Os modelos desenvolvidospor Kermack e McKendrick durante a década de 1930 ainda constituem o bloco deconstrução da maioria dos modelos mais complexos utilizados hoje em dia em epidemiologia. A Epidemiologia Matemática passou para um rápido desenvolvimentoa partir da segunda metade do século XX. Ela é uma área interdisciplinar, resultadoda interação entre epidemiologistas, matemáticos, biólogos, fı́sicos e outros. Paramais informação sobre aspectos históricos relacionados ver [1], [2], [11] e [12].Recentemente, os esforços consistiram em aproximar os modelos teóricos aosdados que são recolhidos em unidades de tempo não contı́nuas, portanto o estudoe análise de modelos epidemiológicos discretos faz todo o sentido. O objetivo nestecaso é que os modelos se ajustem aos dados. Existem vários tipos de modelos, otipo que vamos abordar são os modelos compartimentais. Neste tipo de modeloprecisamos de representar o estado do indivı́duo em relação à doença e acompanhara sua evolução ao longo do tempo. Consideraremos modelos com duas ou trêsclasses, correspondentes aos suscetı́veis (S), isto é, os individuos vulneráveis à infeçãoestudada que no entanto ainda não a contrairam, aos infetados (I), individuos quecontrairam a doença e podem transmiti-la, e aos recuperados (R), que no nosso caso,serão individuos que se curaram e ficaram imunes à doença.Figura 1: Modelo SIR2

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS DiscretosFigura 2: Modelo SISOs modelos que consideraremos constituem versões discretas dos seguintes modelos contı́nuo:e S ′ B b SI aS I ′ b SI (c g)I R′ gI aR S ′ B b SI aS kI I ′ b SI (c k)I,(P),(Q)onde B é taxa de nascimentos, b designa a incidência entre susceptı́veis e infectados,a é a taxa de mortalidade nas classes dos suscetı́veis e recuperados, c é a taxa demortalidade entre os infectados e g e k são taxas de recuperação.Vários trabalhos têm sido realizados no contexto dos modelos SIR e SIS discretos [3], [4], [6], [7], [10] e [13], os quais são o tema central deste trabalho. Váriasdiscretizações são consideradas no processo de obtenção de modelos discretos a partir de modelos contı́nuos. Neste trabalho consideraremos a discretização de Mickenspara obter modelos SIR e SIS autónomos (isto é com parâmetros independentes dotempo) e, na obtenção de um modelo periódico (isto é com parâmetros que dependem periodicamente do tempo), a discretização de Euler.O primeiro capı́tulo deste trabalho é dedicado ao estudo de sistemas de equaçõesàs diferenças, sobretudo a teoria de estabilidade que é a base da análise que faremosdos sistemas epidemiológicos SIR e SIS. No segundo capı́tulo calculam-se os pontosfixos e estuda-se a estabilidade local dos modelos SIS e SIR recorrendo a técnicascomuns, nomeadamente à linearização do sistema numa vizinhança dos pontos deequilı́brio. O terceiro capı́tulo destina-se ao estudo da estabilidade global dos modelos anteriores. Note-se que, apesar de no modelo SIS que consideraremos termosmenos uma classe do que no modelo SIR (a classe dos recuperados), assumimos nessemodelo a possibilidade de perda de imunidade, o que complica a equação dos suscetı́veis. Relativamente aos resultados sobre estabilidade global que obteremos, estesresultados já foram deduzidos recentemente, recorrendo a funções de Lyapunov. Atécnica que usaremos é muito distinta e consiste em adaptar ao nosso contexto ademonstração do resultado sobre estabilidade global obtida em [10] para um modelo3

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS Discretosobtido pelo método de Euler e com taxas distintas. Algumas adaptações não triviaissão necessárias para adaptar a demonstração ao nosso caso. No quarto capı́tulo consideramos o modelo SI com incidência periódica e estabelecemos para este modeloa existência de uma órbita periódica. O argumento recorre a um teorema de [14].Finalmente, no quinto capı́tulo, apresentamos um projeto de divulgação integradona programação da Academia Júnior de Ciências promovida pela Universidade daBeira Interior.4

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS DiscretosCapı́tulo 1Sistemas de Equações às DiferençasComo dissemos anteriormente, os modelos que vamos estudar baseam-se em sistemasde equações às diferenças. Neste capı́tulo, vamos falar de conceitos ligados a equaçõesàs diferenças e, com mais detalhe, a sistemas de equações às diferenças. Daremosênfase às questões relacionadas com a estabilidade.1.1 DefiniçõesComeçamos por definir equação às diferenças.Definição 1.1.1. Sejam fn : D RN RN , n Z 0 . Uma equação da formaxn 1 fn (xn ),n Z 0,(1.1)designa-se por equação às diferenças. Uma solução da equação anterior é uma sucessão (xn )n Z , onde xn RN para cada n Z 0 , que satisfaz a equação.0Quando N 1, também se usa a expressão sistema de equações às diferençaspara designar a equação (1.1). Se a sucessão de funções (fn )n Z 0 não depende den, isto é, se fn f para todo n Z 0 , a equação diz-se autónoma, caso contráriodiz-se não autónoma.Para alguns tipos de equações às diferenças, consegue-se determinar explicitamente a solução. Perante a impossibilidade ou grande dificuldade em encontrara solução, é primordial compreender o comportamento eventual ou assintótico doprocesso iterativo.Neste capı́tulo, vamos concentrar-nos em modelos autónomos:xn 1 f (xn ).(1.2)Conhecida a função f , em (1.2) obter o termo xn 1 está apenas dependente doconhecimento de xn . Considerando x0 , o termo inicial, e aplicando a relação (1.2)5

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS Discretosrepetidamente obtém-sex1 f (x0 ), x2 f (x1 ) f (f (x0 )), x3 f (f (f (x0 ))), .,ou seja obtemos a sucessão {x0 , x1 , x2 , . . .} que se designa por órbita positiva de x0e se denota por O (x0 ). Assim, a órbita positiva de determinado ponto x é dadapor O (x) f k (x) : k 0 .Se f for invertı́vel, podemos falar da órbita negativa de x, a qual designaremos porO (x): O (x) f k (x) : k 0 .Ainda no caso em que a função é invertı́vel, designamos por órbita de x o conjunto O(x) f k (x) : k Z O (x) O (x).A seguinte definição é fundamental na análise do comportamento assintótico desistemas autónomos:Definição 1.1.2. Diz-se que um ponto x é um ponto de equilı́brio da equação (1.2)se for um ponto fixo de f , isto é se f (x ) x .Um ponto de equilı́brio é um ponto cuja órbita se reduz a um conjunto comum único ponto e como tal corresponde a uma solução que é constante ao longo dotempo. Um outro tipo de soluções muito importantes são aquelas que se repetemapós um número fixo de iterações, as soluções periódicas associadas ao conceito deponto periódico.Definição 1.1.3. Diz-se que x é um ponto periódico de perı́odo n se f m (x) 6 x para1 6 m n e f n (x) x.O conjunto dos iterados de um ponto periódico formam uma órbita periódica ouum ciclo.Neste trabalho estaremos particularmente interessados no estudo da estabilidadede pontos de equilı́brio dos sistemas considerados. Prosseguimos com as definiçõesdos vários conceitos de estabilidade considerados.Definição 1.1.4. Um ponto de equilı́brio x da equação (1.2) diz-se estável (ou estávelno sentido de Lyapunov) se para todo o ε 0 existe δ 0 tal que, para todo on N, temoskx x0 k δ kx f n (x0 )k ε.6

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS DiscretosDefinição 1.1.5. Um ponto de equilı́brio x da equação (1.2) diz-se localmente atratorse existir η 0 tal quekx x0 k η lim f n (x0 ) x .Definição 1.1.6. Um ponto de equilı́brio x da equação (1.2) diz-se (localmente)assintoticamente estável se for estável e localmente atrator.Se pudermos tomar η nas definições 1.1.5 e 1.1.6, o ponto de equilı́brio x diz-se, respectivamente, globalmente atrator e globalmente assintoticamente estável.1.2 Matrizes e transformações linearesAntes de prosseguirmos, é necessário recordar alguns conceitos relativamente aocálculo matricial.Seja T : RN RN , uma aplicação linear. Então T satisfaz as seguintes relações:1. T (x y) T (x) T (y);2. T (λx) λT (x).Existem dois conjuntos importantes numa aplicação linear, o núcleo Ker(T ) e aimagem Im(T ).Definição 1.2.1. O núcleo (ou kernel) de T é o conjuntoKer(T ) {x RN : T (x) 0} T 1 (0).Definição 1.2.2. A Imagem de T é o conjuntoIm(T ) {y RN : T (x) ypara algum x RN } T (RN ).Seja F RN um subespaço linear. Designamos por combinação linear dosvetores v1 , ., vn F uma soma da forma λ1 v1 . λn vn onde λ1 , .λn R.Um conjunto S {v1 , ., vk } de vetores de F diz-se linearmente independente sePki 1 ti vi 0 é equivalente a ti 0, para todo i {1, ., k}. O conjunto S diz-seuma base de F se este contém o número mı́nimo de vetores capazes de gerar F ,isto é, se qualquer vector de F pode ser obtido como combinação linear de vetoresde S e o conjunto S é um conjunto de vectores linearmente independentes. Nesteúltimo caso, diz-se que S é gerador de F e cada vetor de F pode ser escrito comoPsoma direta de vetores de S: u ki 1 ti vi , ti R. Uma propriedade importante deKer(T ) é a seguinte: T é injetiva se e só se Ker(T ) 0. Além disso Ker(T ) é oespaço solução do sistema T (x) 0.7

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS DiscretosDada uma base de RN , {e1 , . . . , eN }, qualquer aplicação linear T pode ser identificada com uma matriz A cujas colunas são determinadas a partir dessa base:T (ei ) Aei para i 1, . . . , N.Definição 1.2.3. Dada uma transformação linear T , um número real λ diz-se um valorpróprio dessa transformação linear se existir um vetor x 6 0 tal que T (x) λx.Este vetor x designa-se por vetor próprio associado ao valor próprio λ.Vamos agora recordar o conceito de norma.Definição 1.2.4. Dado um espaço vetorial V , uma função k.k : V R diz-se umanorma se, para todos os x, y V e todo o α R, se verificam as seguintes propriedades: kxk 0 x 0; kαxk α kxk; kx yk 6 kxk kyk.As normas da soma, do máximo e euclideana, dadas respectivamente porkxk1 kX xi , kxk max xi e kxk2 16i6ki 1kXi 1x2i!1/2,para cada x (x1 , . . . , xk ), são algumas das normas mais utilizadas em Rk .O espaço das matrizes k k munido com a soma e o produto usuais de matrizesé um espaço vetorial que representamos por Mk . Dada uma norma em Rk , k · kv ,podemos definir uma norma em Mk , k · k, porkAk max kAxkv: kxkv 6 0 ,kxkvpara cada A Mk . Pode verificar-se que a norma anterior pode ser ainda dadapelas expressões seguintes:kAk max kAxkv max kAxkv .kxkv 61kxkv 1O lema seguinte mostra que, num certo sentido, é indiferente a norma que se usaem Rk (para uma demonstração, ver por exemplo [9]).Lema 1.2.5. Dado k N, todas as normas em Rk são equivalentes: dadas normask.k1 e k.k2 em Rk , existem c1 , c2 0 tais quec1 kxk1 6 kxk2 6 c2 kxk1 ,8

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS Discretospara todo o x Rk .As normas matriciais associadas à norma da soma, do máximo e euclideana, são,respetivamente,kAk1 max16j6kkX aij , kAk max16i6ki 1kXj 1 1/2 aij e kAk2 ρ(AT A),para cada matriz A [aij ] Mk .O objetivo seguinte é definir o conceito de semelhança entre matrizes e enunciarum teorema que afirma que qualquer matriz é semelhante a uma matriz que estánuma forma especial, designada por forma canónica de Jordan. Começamos porapresentar a seguinte definição:Definição 1.2.6. Duas matrizes k k, A e B, dizem-se semelhantes se existir umamatriz invertı́vel P tal que B P 1 AP . Uma matriz que é semelhante a algumamatriz diagonal diz-se diagonalizável.Uma propriedade importante das matrizes semelhantes é apresentada no seguintelema:Lema 1.2.7. Duas matrizes semelhantes possuem os mesmos valores próprios.No conjunto de todas as matrizes semelhantes a uma dada matriz, podemossempre determinar uma matriz que se encontra numa forma especial, conhecidacomo forma canónica de Jordan:Definição 1.2.8. Dizemos que uma matriz k k, J, está na forma canónica de Jordanse J1 0 · · · 0 0 J2 · · · 0 J . . . . . . ,. . .0 0 · · · Jsonde, para cada i 1, . . . , s, Ji é uma matriz mi mi ePsi 1λi10.λi.··· 0. 0. .0000· · · λi··· 00 , 1 λi0.mi k.O teorema seguinte mostra a importância da definição anterior.9

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS DiscretosTeorema 1.2.9. Qualquer matriz k k, A, é semelhante a uma matriz B na formacanónica de Jordan.1.3 Estabilidade de sistemas linearesDada uma matriz k k, A, a equaçãoxn 1 Axn ,(1.3)n Z 0 , diz-se uma equação linear. Note-se que o vetor nulo é sempre um ponto fixode qualquer sistema de equações lineares. Começamos por reescrever os conceitosde estabilidade e estabilidade assintótica para a solução nula de um sistema linear:Definição 1.3.1. A solução nula da equação (1.3) diz-se estável se para todo o ε 0existe δ 0 tal que, para todo o n Z 0 , temoskx0 k δ kAn x0 k ε.Definição 1.3.2. A solução nula da equação (1.3) diz-se assintoticamente estável sefor estável e existir η 0 tal quekx0 k η lim An xn 0.Sejam λ1 , λ2 , ., λn os valores próprios da matriz A em (1.3). O raio espectralda matriz A é dado pela seguinte expressãoρ(A) max{ λi : i {1, ., n}}.É fácil verificar que, para qualquer norma, ρ(A) 6 kAk.Obtemos de seguida uma caracterização importante da estabilidade de um sistema linear.Teorema 1.3.3. A solução nula do sistema linear (1.3) é:a) estável se e só se existe M 0 tal que kAn k 6 M, para todo o n n0 0;b) assintoticamente estável se e só se lim kAn k 0.n Demonstração. Para mostrar a), começamos por assumir que a solução nula de (1.3)é estável. Então, dado ε0 0, seja δ0 0 tal que, se kx0 k δ0 então kAn x0 k ε0 .Em particular, se kx0 k δ0 /2 então kAn x0 k ε0 . LogokAn k max kAn xk maxkxk 110kuk δ0 /2AnkAn ukε0u2ε0 max max kuk δ0 /2 kukkuk δ0 /2 kukkukδ

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS Discretose, fazendo M 2ε0 /δ, concluimos que kAn k 6 M.Reciprocamente, se kAn k 6 M, então, dado ε 0 e definindo δ ε/M, temosque, se x0 é tal que kx0 k δ, então a solução (xn ), associada à condição inicial x0 ,verificakxn k kAn x0 k 6 kAn kkx0 k 6 Mkx0 k Mδ ε.Concluı́mos que a solução nula é estável. Fica provado a).Para mostrar b), suponha-se que o lim kAn k 0. Em particular, kAn k én limitada. Portanto kAn k 6 d com d 0. Para ε 0, tome-se d ε.2δEntão sempreque kx0 k δ vemkxn k kAn kkx0 k 6 dδ εe assim a solução nula é estável. Para provar que é atrativa basta ver quelim kxn k lim kAn kkx0 k 0 kx0 k 0n Daqui decorre quesolução nula.n lim kxn k 0 e assim tem-se a estabilidade assintótica dan Reciprocamente, suponhamos que a solução nula é assintoticamente estável.Então, para cada x0 6 0 temos quelim kxn k lim kAn kkx0 k 0n n Daqui decorre que lim kAn k 0. Assim fica provado também b).n A seguir faremos a demonstração de um resultado muito importante na análiseda estabilidade de um determinado sistema.Corolário 1.3.4. A solução nula do sistema (1.3) é estável se e só se ρ(A) 6 1 e cadavalor próprio de A com λ 1 é semi-simples, ou seja, tem um bloco de Jordandiagonal.Demonstração. Seja A P JP 1, ondeJordan e λi 1 0 λi Ji . . 0 000J diag(J1 , J2 , ., Jr ) está na forma de··· 0. 0. .· · · λi···00 . 1 λi0.De acordo ao Teorema 1.3.3, a solução zero do sistema (1.3) é estável se e só seexiste M0 0 tal quekAn k P J n P 1 6 M0 ,11

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS Discretoso que é equivalente a existir M 0 tal quekJ n k 6 M.De facto, se kAn k 6 M0 entãokJ n k kP 1 P J n P 1 P k 6 kP 1 kkP J n P 1 kkP k kP 1kkP kkAn k 6 M,com M kP 1 kkP kM0 e, por outro lado, se kJ n k 6 M entãokAn k kP 1 J n P k 6 kP 1kkJ n kkP k 6 MkP 1 kkP k.Logo kAn k 6 M0 com M0 kP 1 kkP kM.Neste contexto basta mostrar que kJ n k M, para algum M 0. Temos queJ n diag(J1 n , J2 n , ., Jr n ), onde λni nJi n10.λin 1 · · ·.λni. 00···ni 1λn sisi 1. n 1nλi1λni Deste modo, podemos ver que se λi 1 ou se λi 1 e Ji não é uma matriz 1 1,então Jin fica ilimitado. Por outro lado, se λi 1, então Jin 0 quando n .Para chegar a esta conclusão, basta provar que λi n nℓ 0 quando n , paraqualquer inteiro positivo ℓ. Notando que ln λi 6 0, temoslim λi x xℓ limx x xℓe (ln λi )xℓxℓ 1 ln x · · · 0,x ln λi e (ln λi )x limde acordo com a regra de L’Hôpital.1.4 Estabilidade por aproximação linearOs métodos mais antigos em teoria da estabilidade remontam a Lyapunov e Perron ebaseiam-se na linearização. Vamos recorrer a estes tipo de método. Dado o sistemanão linearyn 1 Ayn g(yn ),(1.4)onde A é uma matriz k k e g : G Rk Rk é uma função diferenciável comg(0) 0, consideremos a sua componente linearzn 1 Azn .12(1.5)

Modelos Epidemiológicos SIR e SIS DiscretosPode-se ver (1.4) como uma perturbação de (1.5). Além disso, o sistema (1.4) podesurgir da linearização do sistema não linearx

UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Ciˆencias Modelos Epidemiol ogicos SIR e SIS Discretos Estudo dos modelos e elabora c ao de uma ac ao de divulaga c ao na area da Biomatem atica Vers ao final ap os defesa Rabilde de Fa tima Manuel Bartolomeu Dissertac ao para obten c ao do Grau de Mestre em Matema tica para Professores (2o .

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