Marcel Proust EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO - φρόνησις

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Marcel ProustEM BUSCA DO TEMPO PERDIDOSODOMA E GOMORRASodoma e Gomorra- VOLUME 4ISBN 9721007242Este livro foi digitalizado por Raimundo do Vale Lucas, com a intenção de dar aos deficientesvisuais a oportunidade de apreciarem mais uma manifestação do pensamento humano.PREFACIO por Fernando PyO tema principal de Sodoma e Gomorra é a inversão sexual, tema que, por outro lado,aparece, veladamente ou não, em todo o desenrolar de Em Busca do Tempo Perdido. Maspodemos ver, igualmente, um tema secundário, e não menos apaixonante, que é o do ciúme dohomem pela mulher amada, em que Proust retoma alguns aspectos que já havia analisadoanteriormente em "Um amor de Swann", segunda parte de No Caminho de Swann. Porém, éneste Sodoma e Gomorra que avulta a análise do homossexualismo.Logo no começo, o Narrador tem a revelação da homossexualidade masculina, o que o fazperceber, a uma luz inteiramente nova, certos fatos e episódios que não compreendia ou a quedera interpretação errônea. Alertado agora, aos poucos vai verificando que o homossexualismo émais generalizado do que imaginara, inclusive o homossexualismo feminino. Desvenda-se, então,para ele, um mundo de equívocos e mal-entendidos, um universo de vícios e prazeres nefandos,aos quais, com horror, atribui os nomes das duas cidades bíblicas, pecaminosas, que teriam sidodestruídas pelo fogo dos céus: Sodoma seria o reduto dos homossexuais masculinos; Gomorra, orefúgio das homossexuais femininas. Em meio a tamanha depravação, o Narrador vai perdendosua esperança e fé no ser humano, ainda mais quando, em seu segundo "momento" de Balbec, éque principia a dar-se conta efetivamente da morte de sua querida avó, que o acompanhara daprimeira vez.Fiel à estrutura simétrica de sua obra, Marcel Proust concentrou aqui os dois pólos dainversão sexual e oferece-nos um romance que mergulha em cheio e fundo na análise dessecomportamento. Sodoma e Gomorra constitui, ao mesmo tempo, o ponto central de todo o ciclo eaquele a partir do qual esse mesmo ciclo assume o caráter de análise impiedosa, afastando-semuito do lirismo dos dois primeiros volumes e da mundanidade polida, episódica, de O Caminhode Guermantes.

CAPÍTULO IPRIMEIRA PARTEA casa da Sra. de Villeparisis, atravessava o pátio vagarosamente, varrido, envelhecidopela luz do dia e de cabelos grisalhos. Fora necessária uma indisposição da Sra. de Villeparisis(conseqüência da enfermidade do Marquês de Fierbois, com quem o barão se achavamortalmente rompido) paf! que o Sr. de Charlus fizesse uma visita àquela hora, quem sabe pelaprimeira vez em sua vida. Pois, com aquela singularidade dos Guermantes, - em vez de seconformarem com a vida mundana, modificavam-na segundo seus hábitos pessoais (nãomundanos, julgavam, e dignos, portanto, quase humilhasse diante deles essa coisa sem valor, omundanismo, o desgostoso modo é que a Sra. de Marsantes não tinha dias marcados, e recebiaas amigas todas as manhãs das dez ao meio-dia), o barão, reservando esse tempo para a leitura,a busca de antigüidades, etc., nunca fazia uma visita senão entre às quatro e às seis da tarde. Àsseis, ia ao Jockey ou passeava pelo Bois. Ao cabo de um instante, fiz um novo movimento derecuo para não ser visto por Jupien; em breve estaria em sua hora de ir para o escritório, de ondesó voltava para o jantar, e isso mesmo nem sempre, desde que sua sobrinha se achava fora, háuma semana, com suas aprendizes, na costureira de uma freguesa para terminar um vestido.Depois, percebendo que ninguém podia me ver, resolvi não me mexer de novo com receiode perder, caso devesse realizar-se o milagre, a chegada, quase impossível de aguardar tantosobstáculos de distância, de riscos e de perigos, do insensato enviado de tão longe, comoembaixador, à virgem que há bastante tempo prolongava a sua espera. Sabia eu que tal esperanão era mais passiva na flor macho, cujos estames se haviam virado espontaneamente para oinseto pudesse mais facilmente recebê-la; do mesmo modo, a flor fêmea que ali se achava,curvaria faceira os seus "estilos" e, para ser mais bem penetrada por ele, andariaimperceptivelmente a metade do caminho como uma adolescente hipócrita, mas fogosa. Aspróprias leis do mundo vegetal são governadas por leis cada vez mais altas. Se a visita de uminseto, isto é, a entrega da semente de uma outra flor, é habitualmente necessária para fecundaruma flor, é porque a autofecundação, a fecundação da flor por ela mesma, como os casamentosrepetidos dentro de uma família, levaria à degenerescência e à esterilidade, ao passo que oacasalamento operado pelos insetos confere às gerações seguintes da mesma espécie um vigordesconhecido de seus ancestrais. Entretanto, tal progresso só pode ser excessivo e a espéciechegar a se desenvolver desmensuradamente; então, assim como uma antitoxina protege contraa doença, como a tireóide regula nossa gordura, como a derrota vem punir o orgulho, cansaço, oprazer, e como o sono, por sua vez, repousa do cansaço, num ato excepcional de autofecundaçãovem, no momento próprio, dar volta em torno, a sua freada, para restituir à nova flor que dela sedesviara exageradamente. Minhas reflexões tinham seguido uma vertente que descreverei maistarde, e eu já deduzira da aparente astúcia das flores uma conseqüência sobre toda uma parteinconsciente da obra literária, quando vi o Sr. de Charlus que tornava a sair da casa da marquesa.Haviam se passado apenas uns poucos minutos desde a sua entrada. Talvez tivesse sabido pelavelha parenta, ou por um criado, da grande melhora, ou antes, da cura completa daquilo que nãopassara de uma indisposição da Sra. de Villeparisis. Neste momento, em que ele não se julgavaobservado por ninguém, de pálpebras baixas contra o sol, o Sr. de Charlus relaxara em suafisionomia aquela tensão, amortecera aquela vitalidade fictícia, que nele mantinham a animaçãode conversa e a força de vontade. Pálido como um mármore, tinha um nariz imponente, e seusfinos traços já não recebiam de um olhar voluntarioso um sentido diferente que alterasse a belezade seu modelo; sendo apenas um Guermantes, parecia já esculpido, ele, Palamede XV, na capelade Combray. No entanto, esses traços gerais de toda uma família assumiam, no rosto do Sr. deCharlus, uma finura mais espiritualizada, sobretudo mais suave. Por ele, eu lastimava queadulterasse normalmente com tantas violências, esquisitices desagradáveis, mexericos, durezas,suscetibilidades e arrogâncias, que ocultasse sob uma brutalidade postiça a amenidade, abondade que, no momento em que saía da casa da Sra. de Villeparisis, eu via estampar-se tãoingenuamente em seu rosto. Piscando contra o sol, parecia sorrir quase; visto assim em repouso ecomo que ao natural, achei em seu rosto algo de tão afetuoso, de tão desarmado, que não pudedeixar de pensar como o Sr. de Charlus se zangaria caso soubesse estar sendo observado; pois,no que me fazia pensar esse homem tão inflamado, que tanto gabava a sua virilidade, a quemtodo mundo parecia odiosamente efeminado, no que ele de imediato me fazia pensar de tal modopossuía os traços, a expressão e o sorriso, era numa mulher!Ia mover-me de novo para que ele não pudesse me perceber; não tive tempo nem

necessidade disso. O que vi! Frente a frente, naquele pátio onde seguramente nunca se haviamencontrado (o Sr. de Charlus só vinha ao palácio Guermantes à tarde, às horas em que Jupienestava no escritório), o barão, tendo subitamente aberto bem os olhos meio cerrados, observavacom atenção extraordinária o antigo alfaiate à porta da loja, ao passo que este, repentinamentepregado em seu lugar diante do Sr. de Charlus, enraizado como uma planta, contemplava com armaravilhado a corpulência do barão, que envelhecia. Coisa mais espantosa ainda, como mudassea atitude do Sr. de Charlus, a de Jupien pôs-se logo em harmonia com ela, como se seguisse asleis de uma arte secreta. O barão, que agora dissimulara a impressão que sentira, mas que,apesar da indiferença, parecia não se afastar senão contra a vontade, ia e vinha, olhava meiovago da maneira como pensava realçar a beleza de suas pupilas, passando um aspectopresunçoso, negligente e ridículo.Ora, Jupien, perdendo iodo com ar humilde e bondoso que sempre lhe conhecera, tinha(em perfeita, simetria com o barão) erguido a cabeça de novo, dera a seu talhe uma vantagem,pousara o punho nas ancas com uma impertinência grotesca; fazia ressaltar o traseiro, assumiaposes com a coqueteria que poderia; a orquídea para com o besouro providencialmente surgido.Eu não sabia que ele pudesse parecer tão antipático. Mas ignorava também que fosse capaz derepresentar de improviso a sua parte naquela espécie de cena de mudos, que (embora seencontrasse pela primeira vez em presença de Charlus) dava a impressão de ter sido longamenteensaiada não chega espontaneamente a essa perfeição a não ser quando achamos umcompatriota no estrangeiro, com quem então o entendimento se faz o mesmo, visto que ointérprete é idêntico e sem que nenhum dos dois nunca mais se tenha encontrado.Aliás, aquela cena positivamente não era nada cômica; estava própria de umasingularidade ou, se preferem, de uma naturalidade cuja beleza aumentava a cada instante. O Sr.de Charlus, por mais que aparentasse um ar desligado, baixava distraidamente as pálpebras,erguia-as de vez em quando e, então, lançava a Jupien um olhar atento. Mas (sem dúvida porpensar que semelhante cena não poderia prolongar-se indefinidamente naquele local, seja pormotivos que se compreenderão mais tarde, seja por aquele sentimento da brevidade de todas ascoisas que faz com que se deseje que cada tiro acerte no alvo, e que torna tão emocionante oespetáculo de todo amor), cada vez que o Sr. de Charlus encarava Jupien, era como se seu olharfosse acompanhado de uma palavra, o que o tornava infinitamente dessemelhante dos olharesem geral dirigidos a uma peste que se conhece ou não se conhece; olhava Jupien com a fixidezparticular de alguém que vai nos dizer:"Perdoe a minha indiscrição, mas o senhor tem um longo fio branco nas costas", ou então:"Não creio estar enganado: o senhor também deve ser de Zurique; parece-me já tê-loencontrado muitas vezes na loja do antiquário."Assim, a cada dois minutos a mesma questão parecia intensamente se colocar a Jupien naolhadela do Sr. de Charlus como essas frases interrogativas de Beethoven, repetidasindefinidamente a intervalos iguais, e destinadas com um luxo exagerado de preparativos aconduzir um novo motivo, uma mudança de tom, uma "reentrada". Precisamente, a beleza dosolhares do Sr. de Charlus e de Jupien, pelo contrário, provinha do fato de que, ao menosprovisoriamente, tais olhares não pareciam ter por finalidade levar a alguma coisa. Essa beleza,era a primeira vez que eu via o barão e Jupien manifestá-la. Nos olhos de um e de outro, o queacabara de erguer-se era o céu, não o de Zurique, mas de alguma cidade oriental cujo nome euainda não adivinhara. Qualquer que fosse a interrupção que pudesse deter o Sr. de Charlus e oalfaiate, o seu acordo parecia concluído, e aqueles inúteis olhares não eram mais que prelúdiosrituais, semelhantes às festas celebradas antes de um matrimônio já combinado. Mais próximosda natureza ainda e a multiplicidade dessas comparações é por si só tanto mais natural que ummesmo homem, ao ser examinado durante alguns minutos, parece sucessivamente um homem,um homem-pássaro ou um homem-inseto, etc. -, dir-se-ia dois pássaros, o macho e a fêmea, omacho procurando avançar, a fêmea - Jupien já não respondendo com qualquer sinal a essamanobra, mas encarando o seu novo amigo sem espanto, com uma fixidez alheada, sem dúvidaconsiderada mais perturbadora e a única útil, uma vez que o macho dera os primeiros passos, econtentando-se em alisar as plumas. Enfim, a indiferença de Jupien já pareceu não lhe bastar;daquela certeza de ter conquistado, a se fazer perseguir e desejar, não havia mais que um passo,e Jupien, resolvendo partir para o trabalho, saiu pela porta principal. Entretanto, só depois de tervoltado duas ou três vezes a cabeça é que escapuliu para a rua, aonde o barão, receando perdera sua pista (assobiando com ar fanfarrão, não sem gritar um "até logo" ao porteiro, que, meio

bêbado e ocupado em atender a visitantes num quartinho atrás da cozinha, nem sequer o ouviu),correu vivamente para alcançá-lo. No mesmo instante em que o Sr. de Charlus atravessava aporta zumbindo como um grande besouro, um outro, este verdadeiro, entrava no pátio. Quemsabe não era este o esperado há tanto tempo pela orquídea, e que vinha trazer-lhe o pólen tãoraro sem o qual ela continuaria virgem? Porém, fui desviado ao seguir as evoluções do inseto,pois, após alguns instantes, prendendo mais a minha atenção, Jupien (talvez para apanhar umpacote que levou mais tarde, e que esquecera na emoção que lhe causara o aparecimento do Sr.de Charlus, talvez apenas por um motivo mais natural), Jupien voltou, seguido pelo barão. Este,disposto a apressar as coisas, pediu fogo ao alfaiate, mas observou logo:- Peço-lhe fogo, mas vejo que esqueci meus charutos.- As leis da hospitalidade prevaleceram sobre as regras da coqueteria. - Entre, vai ter tudoo que quiser - disse o alfaiate, em cuja fisionomia o desdém cedeu lugar ao contentamento. Aporta da loja voltou a fechar-se atrás deles e não pude ouvir mais nada. Perdera de vista obesouro, não sabia se ele era o inseto necessário à orquídea, mas já não duvidava, quanto a uminseto bem raro e a uma flor cativa, da milagrosa possibilidade da conjunção, quando o Sr. deCharlus (simples comparação no tocante aos acasos providenciais, sejam quais forem, e sem amenor pretensão científica de relacionar certas leis da botânica com aquilo que às vezes sechama impropriamente a homossexualidade), que, há muito tempo, só vinha a esta casa às horasem que Jupien estava ausente, pela casualidade de uma indisposição da Sra. de Villeparisis,encontrara o alfaiate e, com ele, a boa fortuna reservada aos homens do gênero do barão poruma dessas criaturas que até podem ser, como se verá, infinitamente mais jovens que Jupien, emais belas, o homem predestinado para que aqueles tenham a sua parte de volúpia neste mundo:o homem que só ama os velhos.Aliás, o que acabo de dizer aqui é o que só haveria de compreender alguns minutos maistarde, de tal modo aderem à realidade essas propriedades de ser invisível, até que umacircunstância a tenha despojado delas. Em todo caso, no momento sentia-me bastante aborrecidopor não mais ouvir a conversa do velho coleteiro com o barão. Percebi então a loja para alugar,separada da de Jupien apenas por um tabique bastante delgado. Para chegar até ela, bastavasubir ao nosso apartamento, ir à cozinha, descer a escada de serviço até os porões, segui-losinternamente em toda a extensão do pátio e, chegado à altura do subsolo, em que há poucosmeses o marceneiro ainda serrava a sua madeira, e onde Jupien tencionava pôr o seu carvão,subir os poucos degraus que davam acesso ao interior da loja. Assim, todo o caminho se faria àsescondidas, eu não seria visto por ninguém. Era o meio mais prudente. Não foi o que adotei, mas,indo ao longo das paredes, contornei o pátio ao ar livre, procurando não ser visto. Se não o fui,penso que o devo mais ao acaso que à cautela. Quanto ao fato de me haver arriscado asemelhante imprudência, quando o caminho pelos porões era tão seguro, vejo três razõespossíveis, caso haja alguma. Primeiro, a impaciência. Depois, talvez, uma recordação obscura doepisódio de Montjouvain, escondido diante da janela da Srta. Vinteuil. De fato, as coisas dessegênero, a que assisti, tiveram sempre, no cenário, o caráter mais imprudente e menos verossímil,como se tais revelações só devessem constituir a recompensa de um ato cheio de riscos, emboraem parte clandestino. Por fim, mal ouso confessar a terceira razão, devido a seu caráter deinfantilidade, que foi, segundo creio, inconscientemente determinante. Desde que, para seguir ever desmentidos os princípios militares de Saint-Loup, eu acompanhara em minúcias a guerra dosBoers, fora levado a reler antigas histórias de explorações, de viagens. Tais histórias me haviamapaixonado, e aplicava-as à vida corrente para criar mais ânimo. Quando as crises me forçavam aficar vários dias e várias noites seguidas não apenas sem dormir, mas sem me deitar, sem comernem beber, no instante em que o sofrimento e a exaustão chegavam a tal ponto que eu achavanunca mais me livraria deles, então eu pensava num determinado viajante atirado à praia,intoxicado por ervas daninhas, tremendo de febre em suas roupas ensopadas pela água do mar, eque, no entanto, sentia-se melhor ao fim de dois dias e retomava o caminho ao acaso, em buscade quaisquer habitantes que talvez fossem antropófagos. Seu exemplo me fortificava, dava-meesperança, e eu sentia vergonha de ter desanimado por um momento. Lembrando os bôers que,tendo pela frente exércitos ingleses, não temiam se expor no instante em que era necessárioatravessar regiões de campo raso antes de encontrar um cerrado, eu pensava:"Tinha graça que eu fosse mais pusilânime, quando o teatro das operações ésimplesmente o nosso próprio pátio, e quando eu, que me bati em duelo tantas vezes semnenhum medo, devido ao Caso Dreyfus, o único ferro que tenha a temer é o do olhar dos vizinhos,

que têm mais que fazer que olhar para o pátio."Mas, quando entrei na loja, evitando ao máximo fazer estalar o assoalho, dando-me contade que o mais leve rumor da loja de Jupien era ouvido no aposento em que eu estava, pensei oquanto Jupien e o Sr. de Charlus tinham sido imprudentes e como o acaso lhes fora providencial.Não ousava mexer-me. O palafreneiro dos Guermantes, aproveitando sem dúvida a ausênciadeles, transportara para a sala em que me encontrava uma escada de mão, guardada até entãona estrebaria. E, se eu subisse nela, poderia abrir os postigos e ouvir como se estivesse naprópria loja de Jupien. Mas receei fazer barulho. Além do mais, era inútil. Nem tive mesmo delamentar só haver chegado ao meu aposento ao fim de alguns minutos. Pois, conforme o que ouvinos primeiros instantes no de Jupien, e que não passaram de sons inarticulados, suponho queforam ditas poucas palavras. É verdade que aqueles sons eram tão violentos que, se nãotivessem sido sempre repetidos uma oitava mais alta por um gemido paralelo, eu poderia julgarque uma pessoa degolava outra junto de mim, e que, a seguir, o assassino e sua vítimaressuscitada tomavam um banho para apagar os sinais do crime. Mais tarde concluí que existeuma coisa tão ruidosa como a dor: é o prazer, sobretudo quando a ele se ajuntam - na falta doreceio de ter filhos, o que não podia ser o caso atual, apesar do exemplo inconvincente daLegenda Áurea preocupações imediatas de propriedade. Por fim, ao cabo de meia hora,aproximadamente (durante a qual eu subira a escada com pés de gato, para espreitar pelopostigo, que, não abri), iniciou-se uma conversação.Jupien recusava, decidido, o dinheiro que o Sr. de Charlus queria lhe oferecer.Depois, o barão deu um passo para fora da loja.- Por que você usa o queixo rapado desse modo? - disse Jupien ao Sr. de Charlus em tomcarinhoso. - É tão bonito uma bela barba!- Puf! É detestável - deu o barão. Entretanto, demorava-se ainda no limiar da porta e Jupien informações sobre o bairro. Nãosabe nada acerca do vendedor de castanhas da esquina? Não, não o da esquerda, este é umhorror, mais no lado par, um rapagão bem moreno. E o farmacêutico de frente tem um ciclistamuito gentil que leva os seus medicamentos.Essas perguntas notadamente aborreceram a Jupien, pois, erguendo-se com o despeito degrande amante traída, respondeu:- Vejo que tem no coração volúpia!Proferida em tom doloroso, glacial e amaneirado, esta censura foi claramente sensível aoSr. de Charlus, que, para desfazer a má impressão que sua ansiedade produzira, dirigiu a Jupien,baixinho demais para que eu distinguisse bem as palavras, uma rogativa que, sem dúvida, exigiriaque eles continuassem sem sua permanência na loja, o que sensibilizou o alfaiate o bastante paradiss

Sodoma e Gomorra constitui, ao mesmo tempo, o ponto central de todo o ciclo e aquele a partir do qual esse mesmo ciclo assume o caráter de análise impiedosa, afastando-se muito do lirismo dos dois primeiros volumes e da m

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