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JUL-AGO 2017Exemplar avulso: R 14,98Uma revista para pastores e líderes de igrejaorigens e implicações de ummovimento controverso

EDITORIALWellington BarbosaDiálogo emergenteAtos a manter os elementos principais da doutrina cristã,mas que desejam reconstruir o modo de ser igreja; e,teólogos que se propõem a causar uma revolução a partir de uma leitura pós-moderna da Bíblia, com implicações claras sobre as crenças e o modo de ser igreja noséculo 21. Portanto, uma avaliação honesta do movimento deve considerar esse leque de distinções.2 JUL-AGO 2017Na sequência, devemos reconhecer que a igrejaemergente faz uma leitura proveitosa do contexto emque vivemos. Uma vez que a preocupação do movimento está relacionada com a proclamação do evangelhoao mundo pós-moderno, sua análise de nosso tempoprovê insights muito úteis. Por exemplo, seus teóricos foram sensíveis ao fato de que a mentalidade pósmoderna é preocupada com os problemas sociais esuscetível aos ensinos de Jesus, mas crítica à apatia espiritual que permeia muitas igrejas protestantes tradicionais. O livro de Dan Kimball, Eles gostam de Jesus, masnão da igreja, lançado originalmente em 2007 e muito divulgado no Brasil, é um exemplo de como a igrejaemergente tem conseguido captar os sinais identificadores da sociedade atual.Por último, embora a igreja emergente esteja conseguindo dialogar com a mentalidade pós-moderna,devemos reconhecer que a fonte em que boa parte deseus adeptos está buscando respostas está equivocada.Um dos principais problemas do movimento é colocar acultura contemporânea acima da Bíblia, ferindo assim oprincípio da contextualização crítica, postura adotadapor missiólogos sérios, na qual o evangelho é quem julga e confronta todas as culturas, e não o inverso. Paraaqueles que valorizam a primazia da Palavra em todosos aspectos da vida da igreja, apesar de não concordarcom diversos conceitos e práticas do movimento emergente, é necessário reconhecer que ele lança um bomdesafio a nós, pastores e líderes: o de verdadeiramentefazer a exegese do mundo sob o olhar da revelação bíblica. Desse indispensável diálogo entre o Texto Sagrado e o contexto atual, e por meio de uma missão quecontemple ação e reflexão, podem surgir comunidadestransformadas e transformadoras.“Precisamosverdadeiramente fazera exegesedo mundosob o olharda revelaçãobíblica.”William de Moraess livrarias cristãs estão repletas de livros escritos por seus principais promotores. Pesquisasacadêmicas citam amplamente seus teólogos einiciativas locais se inspiram em suas práticas. O movimento emergente já não é algo restrito a alguns projetos vanguardistas da igreja protestante nos EstadosUnidos. Há algum tempo, o fenômeno se espalhou pelomundo, e tem influenciado o modo de ser igreja em diferentes lugares do planeta, inclusive na América do Sul.Apesar dessa notória expansão, observa-se que,de modo geral, a teologia do movimento emergentetem sido pouco analisada criticamente. Por esse motivo, existe muita desinformação sobre suas implicações,tanto da parte dos críticos quanto de seus consideradosadeptos. Tal condição pode provocar equívocos na avaliação daqueles que censuram projetos contemporâneosde evangelização, como também sérios erros daquelesque irrefletidamente se dedicam a pregar o evangelhono contexto pós-moderno.O assunto é amplo e impossível de ser esgotado empoucas linhas. Contudo, alguns pontos básicos devemser considerados ao se discutir sobre o que significa aigreja emergente, especialmente sob a perspectiva decristãos que valorizam a primazia da Palavra.Em primeiro lugar, precisamos reconhecer que o fenômeno é complexo. Tratar a igreja emergente comoum bloco monolítico é agir com imprudência. Mesmoseus maiores promotores reconhecem que a variedade de ideias presentes em seu amplo espectro dificultauma definição exata do movimento. Dentro de seu arcabouço encontram-se teólogos conservadores que sepreocupam apenas com a contextualização da mensagem para os pós-modernos; teólogos que estão dispos-Wellington Barbosa,doutorando em Ministério(Andrews University), é editorda revista Ministério

SUMÁRIO10 A gênese de um movimento Jean ZukowskiAntecedentes históricos da igreja emergente14 Por dentro da igreja emergente Fernando CanaleCuidados necessários no diálogo com a teologia do movimento1017 O desafio da contextualização Geraldo Beulke Júnior2 EditorialUma reflexão sobre como a igreja pode mantera identidade sem perder a relevância5 Panorama6 Entrelinhas20 A vidente de EndorL uiz Gustavo AssisInformações da arqueologia e da história queajudam a entender melhor o relato de 1 Samuel 2823Mais do que um símbolo26A segunda besta7 Entrevista32 Pastor com paixão33 Dia a dia34 Recursos Karl Boskamp35 Palavra finalQual foi a atuação de Jesus nos eventosretratados no Antigo Testamento?14 Márcio CostaUm histórico do desenvolvimento da interpretaçãode Apocalipse 13:11 entre os adventistas30Aprenda com as ovelhas bdoval CavalcantiAPrincípios de liderança extraídos do relacionamentocom o rebanhoUma publicação da Igreja Adventista do Sétimo DiaAno 89 – Número 532 – Jul/Ago 2017Periódico Bimestral – ISSN 2236-7071Editor Wellington BarbosaEditor Associado Márcio NastriniRevisora Josiéli Nóbrega; Rose SantosProjeto Gráfico Levi GruberCapa Brian Jackson / FotoliaMinistério na om/revistaministerioTwitter: @MinisterioBRARedação: ministerio@cpb.com.br17Conselho Editorial Carlos Hein; Lucas Alves; AdolfoSuarez, Jerry Page; Jeffrey BrownColaboradores Alberto Peña; Arildo Souza; Cícero Gama;Cornelio Chinchay; Edilson Valiante;Efrain Choque; Evaldino Ramos; GeraldoM. Tostes; Ivan Samojluk; Jadson Rocha;Jair G. Góis; Luis Velásquez; MitchelUrbano; Raildes Nascimento; RubénMontero; Tito ValenzuelaCASA PUBLICADORA BRASILEIRAEditora da Igreja Adventista do Sétimo DiaRodovia SP 127 – km 106Caixa Postal 34 – 18270-970 – Tatuí, SPDiretor-Geral José Carlos de LimaDiretor Financeiro Uilson GarciaRedator-Chefe Marcos De BenedictoChefe de Arte Marcelo de SouzaSERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTELigue Grátis: 0800 979 06 06Segunda a quinta, das 8h às 20hSexta, das 7h30 às 15h45Domingo, das 8h30 às 14hSite: www.cpb.com.brE-mail: sac@cpb.com.brAssinatura: R 72,70Exemplar Avulso: R 14,98Todos os direitos reservados. Proibida areprodução total ou parcial, por qualquer meio,sem prévia autorização escrita do autor e daEditora.Tiragem: 6.0005953 / 36394JUL-AGO 2017 3

Contribua com aA revista Ministério é um periódico internacional editado e publicado bimestralmente pela Casa Publicadora Brasileira, sob supervisãoda Associação Ministerial da Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia. A publicação é dirigida a pastores e líderes cristãos.Orientações aos escritoresProcuramos contribuições que representem a diversidade ministerial da América do Sul. Diante da variedade de nosso público,utilize palavras, ilustrações e conceitos que possam ser compreendidos de maneira ampla.A Ministério é uma revista peer-review. Isso significa que osmanuscritos, além de serem avaliados pelos editores, poderão ser encaminhados a outros especialistas sobre o tema que seu artigo aborda.Áreas de interesse C rescimento espiritual do ministro. N ecessidades pessoais do ministro. M inistério em equipe (pastor-esposa) e relacionamentos. N ecessidades da família pastoral. H abilidades e necessidades pastorais, como administração do tempo, pregação, evangelismo, crescimento de igreja, treinamento devoluntários, aconselhamento, resolução de conflitos, educaçãocontínua, administração da igreja, cuidado dos membros e assuntos relacionados. E studos teológicos que exploram temas sob uma perspectiva bíblica, histórica ou sistemática. Liturgia e temas relacionados, como música, liderança do culto e planejamento. A ssuntos atuais relevantes para a igreja.Tamanho Seções de uma página: até 4 mil caracteres comespaço. Artigos de duas páginas: até 7,5 mil caracteres com espaço. Artigos de três páginas: até 11,5 mil caracteres com espaço. Artigos solicitados pela revista poderão ter mais páginas, deacordo com a orientação dos editores.Estilo e apresentação Certifique-se de que seu artigo se concentra no assunto. Escreva demaneira que o texto possa ser facilmente lido e entendido, à medida que avança para a conclusão. Identifique a versão da Bíblia que você usa e inclua essa informaçãono texto. De forma geral, recomendamos a versão Almeida Revistae Atualizada, 2ª edição. Ao fazer citações bibliográficas, insira notas de fim de texto (não notasde rodapé) com referência completa. Use algarismos arábicos (1, 2, 3). Utilize a fonte Arial, tamanho 12, espaço 1,5, justificado. Informe no cabeçalho: Área do conhecimento teológico (Teologia,Ética, Exegese, etc.), título do artigo, nome completo, graduação eatividade atual. Envie seu texto para: ministerio@cpb.com.br. Não se esqueça demandar uma foto de perfil para identificação na matéria.

PANORAMAAlegria em servirUma das preocupações de uma denominação mundial como aIgreja Adventista do Sétimo Dia é compreender como seus pastores têm enxergado o ministério em seus mais diferentes aspectos. Com esse objetivo, o Instituto de Ministério da Igreja, sediadona Andrews University, conduziu um estudo intitulado O PastorAdventista: Uma pesquisa mundial. O projeto contou com a participação de 4.260 ministros e teve por objetivo investigar suasatitudes, práticas e sentimentos pessoais.A investigação abarcou elementos como a percepção geralsobre o ministério, o tempo de experiência na atividade, aSapannpix / FotoliaDeclaraçõespositivas96% Sei que Deus me chamou para ser um pastor95% Sou feliz sendo pastor91% Ser pastor se adequa aos meus dons83% Sinto-me apoiado por minha congregação73% Creio que recebo um salário justo73% Sinto-me apoiado por minha Associação/União60% Tenho tempo adequado para trabalhar52% Tenho acesso às decisões tomadas por minha Associaçãocompreensão a respeito da missão da igreja, os relacionamentosdo pastor com as instituições denominacionais e a congregaçãolocal e o entendimento quanto às doutrinas ensinadas pela IgrejaAdventista. Os resultados relacionados com os sentimentos dospastores em relação a seu ministério são interessantes. Diante deonze declarações apresentadas, oito positivas e três negativas, osparticipantes foram convidados a indicar seu índice de concordânciaou discordância em uma escala de cinco pontos. De modo geral,a pesquisa aponta para um ministério que acredita no chamadodivino e encontra alegria no serviço. Confira os percentuais:23% Às vezes me sinto inclinado a deixar o ministério25% Estou desanimado porque parece que ninguém seimporta comigo70% Necessito de mais capacitação para desempenharmelhor meu ministérioDeclaraçõesnegativasFonte: T he Institute of Church Ministry, The Adventist Pastor:A World Survey, www.adventistresearch.org .JUL-AGO 2017 5

ENTRELINHASCarlos HeinCriativos, mas bíblicosHConforme destaca o teólogo adventista FernandoCanale, sem dúvida, este é o tempo em que precisamos nos voltar à Palavra de Deus, usando a doutrinado santuário como chave hermenêutica para compreender a harmonia do sistema bíblico da verdade.Ademais, nós, pastores e líderes, precisamos manterem perspectiva que os pós-modernos necessitam não6 JUL-AGO 2017de programas espetaculares ou shows, mas de conhecer o Cristo real e vivo que Se manifesta na vida doscristãos. Nesse ponto, devemos ser conscientes deque, primeiro, é necessário que Jesus seja visto em nós,em nosso dia a dia como ministros da igreja de Deus.Nesse contexto, é oportuno recordar o que escreveu Ellen G. White: “Cristo aguarda com fremente desejo a manifestação de Si mesmo em Sua igreja.Quando o caráter de Cristo se reproduzir perfeitamente em Seu povo, então virá para reclamá-los como Seus”(Eventos Finais, p. 39).Necessitamos que o Espírito Santo nos conceda discernimento para saber como atrair as pessoas a Jesus.Podemos utilizar métodos modernos e a tecnologia quetemos à disposição, porém, sem cair no erro que tem levado muitas igrejas e muitos pastores a abandonar as“veredas antigas”, que não são descartáveis.Portanto, o que mais precisamos hoje é de mostrarao mundo o Cristo vivo, real, amoroso e prestes a vir.Necessitamos proclamar o Cristo da história, o Cristo daBíblia, o Cristo que está no santuário celestial intercedendo por nós, e, sobretudo, o Cristo que está em nossocoração, em nossa vida, e que Se manifesta em nossospensamentos, palavras e ações.“Todo cristão tem o privilégio, não só de esperar avinda de nosso Senhor Jesus Cristo, como também deapressá-la (2Pe 3:12). Se todos os que professam Seunome produzissem fruto para Sua glória, quão depressa não estaria o mundo todo semeado com a semente do evangelho! Rapidamente amadureceria a últimagrande seara e Cristo viria recolher o precioso grão”“Necessitamosque o EspíritoSanto nosconcedadiscernimentopara sabercomo atrairas pessoas aJesus.”(Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 69).Divulgação DSAoje, mais do que nunca, a igreja deve se esforçar para fazer as adaptações necessárias a fimde cumprir sua missão, alcançando a mente pósmoderna. Contudo, ela deve cuidar para não perder aessência do cristianismo e a razão de sua existência.Isso pode parecer muito simples, mas, em nossosdias, quando as pessoas tentam viver sua fé imitandoJesus de Nazaré, deixando de lado a revelação bíblicae ajustando-se ao pensamento pós-moderno, quando se enfatiza exageradamente o pragmatismo, não énada fácil! Infelizmente, há cada vez menos cristãos queconseguem conciliar a ortodoxia com a propagação doevangelho em nossa sociedade.Nosso tempo é caracterizado por uma postura antropocêntrica, que procura satisfazer os próprios interesses e realizar sonhos e anseios particulares. Nessecontexto, a igreja corre o risco de organizar seus cultossomente pensando em agradar a audiência. Além disso,há uma forte ênfase na experiência pessoal e sensorial. Existe uma procura crescente por cultos e orações um tanto místicos, com canções estridentes emlugar de músicas equilibradas, que procuram substituir a adoração fundamentada no estudo da Bíbliae na reverência diante da presença Daquele que seacha no murmúrio de “uma voz mansa e delicada”(1Rs 19:12, ARC). E o mais triste, é que podemos observar certo desprezo pelas Escrituras. A opinião damaioria tem sido mais importante do que a revelaçãode Deus, encontrada em Sua Palavra. Como pregadores, corremos o risco de fundamentar nossos sermõesmais na lógica humana do que no “Assim diz o Senhor”.Carlos Hein, doutor em Teologia(Universidad Peruana Unión), ésecretário ministerial para a IgrejaAdventista na América do Sul

ENTREVISTAKWABENA DONKORAbaixo dasuperfícieGentileza do entrevistado“Embora o movimento emergenteesteja essencialmente preocupado comassuntos ligados à eclesiologia, uma vezque seu foco é tornar a igreja relevanteem um contexto pós-moderno, existemoutros temas teológicos relacionados,como a doutrina das Escrituras, asoteriologia e a escatologia.”por Wellington BarbosaO movimento emergente tem se destacado no cenário religioso pós-moderno eprovocado uma série de reflexões e críticas quanto à sua teologia e prática. Na essência do debate encontra-se a preocupação com o equilíbrio entre a fidelidade àBíblia e o cumprimento da missão de pregar o evangelho a todas as pessoas. Nesse contexto, diversos teólogos têm se dedicado a estudar o tema e produzir materiais que sirvam para orientar pastores e líderes locais. Um deles é Kwabena Donkor,diretor associado do Instituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia e autor de The Emerging Church and Adventist Ecclesiology(Biblical Research Institute, 2011).Graduado pela Andrews University, Kwabena Donkor obteve seu doutorado emO que é o movimento da igreja emergente? Qual é sua origem?Podemos dizer que o movimento daigreja emergente teve seu início a partirde uma conferência organizada pela Leadership Network, nos Estados Unidos, emmeados dos anos 1990. O foco inicial doevento era o ministério para a Geração X,mas a ênfase mudou para questões relacionadas a como ser igreja em uma cultura emergente pós-moderna. É importantereconhecer que o que é amplamente cate-Teologia Sistemática, e sua tese foi publicada com o título Tradition, Method, andContemporary Protestant Theology: An Analysis of Thomas C. Oden’s VincentianMethod. Ele tem escrito artigos acadêmicos para revistas como a Andrews University Seminary Studies, Ministry e Ministério. Além disso, contribuiu com o livro Reclaiming the Center: Confronting Evangelical Accommodation in Postmodern Times(Crossway, 2004), ao lado de nomes renomados da Teologia evangélica, como Millard Erickson, D. A. Carson e J. P. Moreland. Ele e sua esposa, Comfort, têm dois filhos.gorizado como “igreja emergente” compreende uma grande variedade de igrejase cristãos. É essa diversidade que torna difícil definir o movimento. Um modo útil decatalogar o fenômeno emergente em tipos específicos foi fornecido por Ed Stetzer, que os classifica como “relevantes”,JUL-AGO 2017 7

“reconstrucionistas” e “revisionistas”. Osrelevantes são teologicamente conservadores, aceitam o evangelho conformeele tem sido entendido ao longo da história da igreja, mas procuram torná-locompreensível à cultura emergente. Os reconstrucionistas aceitam o evangelho, masquestionam e reconstroem grande parteda forma da igreja. Os revisionistas questionam e revisam o evangelho e a igreja.De modo geral, como os diferentes ramos do protestantismo seposicionam em relação à igrejaemergente?É difícil avaliar a igreja emergenteconsiderando a perspectiva dos diferentes ramos do protestantismo.A dificuldade surge principalmentepelo fato de que o movimento atravessa uma série de fronteiras teológicas e eclesiais. Os participantesse descrevem como protestantes,pós-protestantes, evangélicos, pósevangélicos, liberais, pós-liberais,conservadores, pós-conservadores,carismáticos, neo-carismáticos, etc.O movimento da igreja emergente surgiu como uma tentativa dereagir aos desafios impostos pelacultura pós-moderna à “igreja tradicional”. Em quais pontoseles foram bem-sucedidos? Ondefalharam?Definir sucesso ou fracasso depende dos critérios pelos quais o movimento da igreja emergente é avaliado.O que é considerado falha por um, podeser julgado como sucesso por outro. Deum ponto de vista adventista, alguémpoderia ver a posição dos “relevantes”como fundamentalmente uma questãode contextualização que, em princípio,não é antibíblica (1Co 9:19-23). No entanto, a possibilidade da contextualizaçãose transformar em algo sincrético requermuito cuidado, e deve-se encontrar princípios bíblicos em apoio ou contra quaisquer8 JUL-AGO 2017práticas. O problema com os “reconstrucionistas” pode ser visto de forma diferente, uma vez que parecem tomar a questãoda contextualização mais teologicamente,estendendo-a à própria forma e estruturada igreja. Assim, ao contrário das práticas deadoração, em que podemos reunir princípios bíblicos para orientar uma variedadede estilos, a própria igreja, como entidade,está tão intimamente conectada ao plano de Deus para o mundo (Ef 3:10) que, aomudar sua forma (por exemplo, adotandoÉ difícil avaliar a igrejaemergente considerando aperspectiva dos diferentesramos do protestantismo.A dificuldade surgeprincipalmente pelo fatode que o movimentoatravessa uma série defronteiras teológicas eeclesiais.igrejas encarnacionais ou domésticas),não devemos apenas nos preocupar coma “relevância” teológica, mas tambémcom sua “adequação”. Stetzer está correto, em princípio, quando diz: “Não querum prédio, um orçamento e um programa?Tudo bem. Não quer a Bíblia, uma liderança bíblica e uma comunidade de aliança?Isso não está bem.” A questão com os“revisionistas” é mais preocupante, emvirtude do questionamento ou da modificação de pontos e conceitos fundamentaisdo evangelho defendida por eles.Quais conceitos teológicos são maisafetados pelo movimento emergente?Embora o movimento emergente esteja essencialmente preocupado com assuntos ligados à eclesiologia, uma vez que seufoco é tornar a igreja relevante em um contexto pós-moderno, existem outros temasteológicos relacionados, como a doutrinadas Escrituras, a soteriologia e a escatologia.O espaço não permite fornecer os detalhes da maneira como esses conceitos sãoafetados pelos emergentes. Contudo, emtese, essas doutrinas são interpretadas de modo consistente com osprincípios pós-modernos, como o antifundamentalismo, a rejeição das reivindicações de uma verdade universale objetiva e o pluralismo intelectual.Por exemplo, quando defensores dasigrejas emergentes, como Brian McLaren, advogam uma abordagem narrativa da Bíblia, eles endossam a noçãode que a autoridade das Escrituras reside em seu poder narrativo e não emseus aspectos didáticos. Assim, McLaren pode confortavelmente dizer quea abordagem narrativa “não diminui aagonia que se sente lendo a conquistade Canaã com os olhos de alguém ensinado por Jesus a amar a todos, inclusive os inimigos. Entretanto, isso ajudaa transformar a Bíblia no que ela é, nãouma enciclopédia de verdades moraisatemporais, mas a narrativa reveladora de Deus trabalhando em um mundo violento e pecaminoso, chamandopessoas, começando com Abraão, para umnovo estilo de vida” (A Generous Orthodoxy,2004, p. 171). Obviamente, o impacto do movimento emergente sobre esses conceitoscristãos gera sérias preocupações.Uma das características distintivas domovimento emergente é sua maneirade “fazer igreja”. Quais são as implicações da eclesiologia emergente paraas igrejas protestantes?Embora os protestantes reconheçamque, atualmente, a igreja como corpo de

Cristo esteja nitidamente dividida, há concordância na necessidade de defini-la comoalgo que inclui todos os que são salvos porCristo, expressos como uma comunidadeem todo o mundo, ainda que ao mesmotempo presente em cada assembleia. Osprotestantes também sentiram a necessidade de identificar as marcas da igrejaverdadeira como o lugar em que a Palavra é corretamente pregada e os sacramentos são devidamente administrados.O movimento emergente, entretanto,pratica o que chama de “eclesiologiaprofunda” que, ao invés de favorecer algumas formas de igreja e criticar ou rejeitar outras, considera quecada forma tem fraquezas e forças,inconvenientes e potenciais. De fato,proponentes como McLaren defendem uma “ortodoxia generosa”, quevê os outros religiosos e não religiosos como vizinhos, colaboradores eparceiros de diálogo. Ele argumenta que a fé cristã deve não só se tornar bem-vinda para outras religiões,mas também proteger as herançasdessas religiões e não se tornar umde seus inimigos. Tais posições eclesiológicas apresentam grandes desafios para os adventistas do sétimo dia,especialmente quanto a seu autoentendimento como igreja remanescente. Dada a “ortodoxia generosa” domovimento emergente, a noção deuma igreja cristã que reivindica umpapel missionário único, divinamente concedido, com significado espiritual universal, desafia tudo o que osemergentes têm defendido.A religião cristã não reconhece umafalsa dicotomia entre experiência e verdade. O cristianismo entende o ser humano como um todo unificado e saudávelda mente (cognitivo), do coração (afetivo) e da vontade (volitivo). A resposta deJesus ao intérprete da lei em Mateus 22:37para amar “o Senhor, teu Deus, de todo o teucoração, de toda a tua alma e de todo o teuentendimento” implica claramente umadevoção sincera ao Senhor, envolvendoA ênfase pós-modernana comunidade e nosrelacionamentos é um corretivobem-vindo, e incorporaresses elementos pode nãonecessariamente indicar umaassimilação dos princípios daigreja emergente. No entanto,deve-se ter em mente que asênfases bíblico-relacional ecomunitárias estão enraizadasem princípios diferentes dospós-modernos.O movimento emergente enfatiza aexperiência em detrimento da verda-todos os aspectos: emocional, volitivo ecognitivo. A dimensão cognitiva se relaciona com a verdade enquanto o aspectoemocional, com a experiência. Além dis-de. Por outro lado, para muitos protestantes históricos, parece haveruma ênfase maior na verdade em relação à experiência. Qual das duas ênfases está correta?so, a compreensão do Novo Testamentoda “sã doutrina” está ligada à vida cristã. Assim, nas Epístolas Pastorais, a sãdoutrina é contrastada com a vida imoral(1Tm 1:10; Tt 2:1-5).O senhor acredita que toda inserçãode elementos contemporâneos nadinâmica regular da igreja seja umaadesão, ainda que inconsciente, aomovimento emergente?Os valores pós-modernos de adoraçãodemandam uma atitude comunal, missional e hospitaleira. Embora esses elementos sejam descritos como pós-modernos,eles não são única e distintivamente pósmodernos. De fato, a doutrina cristã do DeusTriúno já nos aponta essas direções.A disseminação do individualismo naspráticas cristãs foi um resultado infelizda acomodação cristã à modernidade.A ênfase pós-moderna na comunidade e nos relacionamentos é um corretivo bem-vindo, e incorporar esseselementos pode não necessariamente indicar uma assimilação dos princípios da igreja emergente. No entanto,deve-se ter em mente que as ênfasesbíblico-relacional e comunitárias estão enraizadas em princípios diferentes dos pós-modernos.De modo mais específico, comopastores adventistas podemtrabalhar para manter a relevância da igreja no contexto pósmoderno sem comprometer a essência teológica da denominação?As igrejas adventistas precisam serrelevantes não apenas em contextospós-modernos, mas em todos os contextos culturais e sociológicos em quese encontram. Assim, há a necessidade de uma contextualização adequadae sólida que não conspire contra os valoresbíblicos. Intervenções apropriadas e criativaspodem incluir estilos de adoração participativos envolvendo cânticos congregacionaisvibrantes, métodos dialógicos e narrativosde proclamação da Palavra e estratégias deedificação de relações comunitárias dentroda igreja. Nenhum desses elementos é, emprincípio, contrário aos valores bíblicos.Diga-nos o que achou deste artigo: Escreva para ministerio@cpb.com.br ou visite www.facebook.com/revistaministerioJUL-AGO 2017 9

CAPAUma síntese dosantecedenteshistóricos daigreja emergenteJean Zukowskide umo fim do século 19 e início do século20, a raça humana viveu a expec-da ciência, da industrialização e do capitalismo, uma condição contínua de progresso e realizações.2 Os países então seriamprovenientes do desenvolvimento científico levaram as pessoas a descrer dos ideaismodernos de progresso. Desse modo, ostativa de grandes realizações. Acrença no desenvolvimento científico, queresultaria em respostas objetivas para osproblemas do mundo, era a certeza de umnovo tempo para a humanidade.1 Nessaperspectiva, acreditava-se que a sociedade moderna conseguiria alcançar, por meiocaracterizados por homens livres e pensantes, que viveriam em um regime democrático, respeitando os direitos individuais.3Contudo, as duas guerras mundiais, oaumento de doenças, a adoção de sistemas políticos que não trouxeram igualdadeentre os povos e os problemas ecológicoschamados pós-modernos passaram aquestionar os pressupostos da modernidade. Para eles, é praticamente impossívelalcançar soluções para os problemas humanos aplicando as leis naturais invioláveisdo universo que, de acordo com seus antecessores, quando conhecidas e seguidas,N10 JUL-AGO 2017LightstockA

levariam a humanidade a experimentar asociedade ideal.Além de refutar o ideal moderno, ospós-modernos também começaram acontestar qualquer instituição que, de forma objetiva, apresentasse soluções parao mundo. Duas em especial se tornaramalvos desse ceticismo: a família e a igreja.Tal descrença fez com que os jovens nosanos 80, 90 e 2000 se afastassem dasdenominações estabelecidas e buscassem respostas em movimentos que valorizassem a experiência espiritual sem,todavia, estar comprometidos com instituições religiosas.A evasão da juventude que frequentava a igreja levou estudiosos cristãos a buscar respostas para o problema. Uma delasé o movimento emergente que, em algunslugares, tem conseguido chamar atençãodas novas gerações. As estratégias evangelísticas adotadas pela igreja emergentetêm sido elogiadas e criticadas por várioslíderes cristãos. A fim de se compreendermelhor esse movimento, este artigo apresenta uma breve definição e descrição docontexto histórico em que ele se desenvolveu, com o objetivo de prover recursos para uma avaliação adequada de suaspropostas.engajar com a pós-modernidade, aceita-acomo um fato que não pode ser mudadoe entende que a igreja precisa se adaptar eaproveitar o máximo disso na evangelização; (3) orientado pela praxis : defendea primazia da ortopraxia sobre a ortodoxia, direcionando suas energias na adaptação da adoração para a cultura emergente,considerando assim promover uma igreja missional; (4) pós-evangélico: advoga apluralidade teológica sem defender o exclusivismo religioso ou o monopólio deDeus pelo mundo cristão; e (5) político: ligado ao foco social e à liderança política danação, na defesa dos direitos individuais,das minorias e das questões ecológicas.5Eddie Gibbs afirma que “as igrejasemergentes são comunidades missionaisque surgiram na cultura pós-moderna econsistem de seguidores de Jesus que estão procurando ser fiéis em seu tempo elugar”.6 Segundo Kathy Smith, o movimento pode ser definido também como “umamudança teológica/filosófica no que significa seguir Jesus”.7Mark Driscoll, por sua vez, apresenta três tipos básicos de igrejas cristãs:tradicional e institucional, contemporânea e evangélica e, emergente e missional. Para ele, cada uma tem característicasmovimentoDefinição: tarefa difícilDefinir igreja emergente não é algo fácilde se fazer, pois o movimento é compostode variadas opiniões e lideranças, que defendem e aplicam teologias e práticas muito distintas.4 Scot McKnight, por exemplo,caracteriza o fenômeno por meio de cinco temas: (1) profético: critica a igreja atualde forma provoc

Site: www.cpb.com.br E-mail: sac@cpb.com.br Assinatura: R 72,70 Exemplar Avulso: R 14,98 Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização e

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