Notas De Aula Do Curso De F Sica II Ondas, Relatividade E .

2y ago
57 Views
2 Downloads
2.33 MB
119 Pages
Last View : 15d ago
Last Download : 3m ago
Upload by : Allyson Cromer
Transcription

Notas de aula do curso de Fı́sica IIOndas, Relatividade e Termodinâmica1Fernando T C Brandt23 de Abril de 20081As principais referências aqui adotadas são os volumes 2 e 4 (cap. 6) do “Curso de Fı́sicaBásica”, Herch Moysés Nussenzveig (HMN), Ed. Edgard Blücher, e também o volume 1 do“The Feynman Lectures on Physics”, R. P. Feynman, R. B. Leighton e M. Sands, AddisonWesley Pub. Co. (veja referências [1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12]). É possı́vel que existamainda muitos erros de digitação. Além disso o texto tem sido modificado freqüentemente.Dúvidas, sugestões e correções podem ser enviadas para o e-mail fbrandt@usp.br

2

Sumário1 Ondas1.1 Conceito de ondas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1.1.1 Alguns fatos e propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . .1.2 Ondas em uma dimensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1.2.1 Ondas progressivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1.2.2 Obtenção da Solução de d’Alembert . . . . . . . . . . . .1.2.3 Soluções harmônicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1.3 Equação da corda vibrante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1.3.1 Derivação da equação de onda . . . . . . . . . . . . . . .1.3.2 Intensidade da onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1.3.3 Princı́pio de Superposição . . . . . . . . . . . . . . . . . .1.4 Interferência de ondas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1.4.1 Duas ondas no mesmo sentido . . . . . . . . . . . . . . . .1.4.2 Duas ondas em sentidos opostos – Ondas Estacionárias I1.4.3 Batimentos – Velocidade de Grupo . . . . . . . . . . . . .1.5 Reflexão de ondas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1.5.1 Extremidade fixa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1.5.2 Extremidade livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1.5.3 Reflexão em um ponto de junção . . . . . . . . . . . . . .1.6 Modos Normais de Vibração – Ondas Estacionárias II . . . . . .1.6.1 Corda presa nas extremidades . . . . . . . . . . . . . . . .1.6.2 Corda presa em uma extremidade e solta em outra . . . .1.6.3 Corda solta em ambas as extremidades . . . . . . . . . . .1.6.4 Movimento Geral da Corda - Análise de Fourier . . . . .2 Som2.1 Ondas2.1.12.1.22.1.32.1.42.2 Ondas2.2.12.2.22.2.32.2.42.2.5sonoras . . . . . . . . . . . . . . . .Derivação da equação de onda . . .Velocidade do Som . . . . . . . . . .Sons harmônicos . . . . . . . . . . .Intensidade do som . . . . . . . . . .em mais dimensões . . . . . . . . . .Ondas planas em três dimensões . .Equação de ondas em três dimensõesOndas esféricas . . . . . . . . . . . .Princı́pio de Huygens . . . . . . . .Reflexão e refração . . . . . . . . . 38414344464647484849

4SUMÁRIO2.2.62.2.7Efeito Doppler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Cone de Mach – velocidades supersônicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3 Relatividade3.1 Sistema de coordenadas galileano . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.2 Princı́pio de relatividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.3 Invariância da velocidade da luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.3.1 O experimento de Michelson e Morley . . . . . . . . . . . .3.3.2 Alternativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.3.3 Einstein entra em cena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.4 Conseqüências dos Princı́pios da Relatividade Restrita . . . . . . .3.4.1 Relatividade da Simultaneidade . . . . . . . . . . . . . . . .3.4.2 Dilatação do tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.4.3 O “ paradoxo” das gêmeas . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.4.4 Contração de FitzGerald-Lorentz (distâncias longitudinais)3.5 Transformação de Lorentz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.5.1 Derivação da transformação de Lorentz . . . . . . . . . . .3.5.2 Transformação de Galileu . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.5.3 Contração de Lorentz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.5.4 Transformação de Lorentz em qualquer direção . . . . . . .3.5.5 Simultaneidade e sincronização . . . . . . . . . . . . . . . .3.5.6 Intervalos de Espaço-Tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.5.7 O cone de luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.5.8 Composição de velocidades . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.6 Efeito Doppler relativı́stico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.6.1 Efeito Doppler e a expansão no Universo . . . . . . . . . . .3.7 Mecânica relativı́stica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.7.1 Velocidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.7.2 Momento e energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.7.3 Cinemática relativı́stica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.7.4 Dinâmica relativı́stica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3.8 Próximos assuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7989899101105108A Conservação de momento na relatividade109A.1 Exercı́cio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109B Formulas e tabelas de constantes fı́sicasB.1 Fórmulas trigonométricas . . . . . . . . . . .B.1.1 Fórmula de Euler . . . . . . . . . . . .B.1.2 Soma de ângulos . . . . . . . . . . . .B.1.3 Identidades produto-soma . . . . . . .B.1.4 Identidades soma-produto . . . . . . .B.2 Algumas integrais . . . . . . . . . . . . . . . .B.2.1 Fórmulas básicas . . . . . . . . . . . .B.2.2 Integrais de algumas funções racionaisB.2.3 Integrais envolvendo raı́zes . . . . . .B.2.4 Integrais envolvendo logaritmos . . . .B.2.5 Integrais envolvendo exponenciais . . .111111111111111112112112112113113113

SUMÁRIO5B.2.6 Integrais envolvendo funções trigonométricas . . . . . . . . . . . . . . . . . 113B.3 Algumas constantes fı́sicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115B.4 Tabela Periódica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

6SUMÁRIO

Capı́tulo 1Ondas1.1Conceito de ondasA experiência mostra que é possı́vel produzir efeitos em um ponto B, a partir de um ponto A,distante de B, sem que seja necessário mover um corpo material de A para B. Alguns exemplos: Controle remoto em A altera as propriedades de dispositivos (TV, portão automático, portasde automóveis, etc) em B. Auto-falante em A produz vibrações sonoras em B. Se A e B são pontos na superfı́cie da água, podemos produzir uma onda de superfı́cie em Aque faz um barco se movimentar em B. Se A e B são pontos de uma corda esticada, podemos produzir oscilações em A, que sepropagam até B.Existem muitas outras situações onde ocorre a propagação de um sinal entre pontos distantesno espaço, mas a matéria se move apenas localmente. Por exemplo, quando uma pedra é atiradano meio de um lago as ondas produzidas se propagam até a margem, mas a superfı́cie do lagose move apenas oscilando localmente. Esse conceito de onda refere-se a situações que podem serreduzidas a um tratamento mecânico envolvendo propriedades de elasticidade do meio. Mas hátambém outras possibilidades. Por exemplo, uma onda eletromagnética não precisa de um meiopara se propagar. O mesmo ocorre com as ondas de probabilidade na Mecânica Quântica.1.1.1Alguns fatos e propriedadesEmbora não transporte matéria, a onda transmite momento e energia. Por exemplo, uma perturbação ondulatória produzida na superfı́cie d’água faz com que um barco distante oscile. Dependendo das caracterı́sticas do meio de propagação, a perturbação ondulatória pode possuir diferentescaracterı́sticas. Listamos abaixo alguns casos tı́picos. Ondas longitudinais. Ondas transversais. Mistura de transversais e longitudinais. Por exemplo, ondas sı́smicas (meios sólidos). Nocentro lı́quido da terra a parte transversal desaparece.7

8CAPÍTULO 1. ONDAS Ondas na superfı́cie da água não são nem transversais nem longitudinais. Pequenos elementosde fluido descrevem trajetórias aproximadamente circulares, movendo-se na direção da onda,na superfı́cie, e na direção oposta, por baixo. Ondas eletromagnéticas. Os campos elétrico e magnético oscilam perpendicularmente àdireção de propagação e entre si. Não há um meio material para a propagação (esse grande“mistério” somente veio a ser descoberto juntamente com os desenvolvimentos que levaramà Teoria da Relatividade Especial, que veremos mais adiante no curso). Ondas de probabilidade na Mecânica Quântica. De acordo com a Teoria Quântica, há umaonda de probabilidade associada a cada partı́cula.A seguir iniciaremos o estudo quantitativo detalhado das ondas unidimensionais. O caso tı́picoé o que ocorre em uma corda esticada.1.2Ondas em uma dimensãoOs casos mais simples são aqueles em que o meio de propagação pode ser reduzido a uma únicadireção do espaço. O exemplo tı́pico é o de uma corda distendida, cujos pontos podem oscilar nadireção perpendicular à corda. A seguir vamos analisar em detalhe estas ondas unidimensionais.1.2.1Ondas progressivasConsideremos um pulso se propagando em uma dimensão descrita pela coordenada x. A fotografiado perfil da corda em um dado instante de tempo pode ser descrita por uma função de x. Porexemplo, em t 0 poderı́amos ter a função y(x, 0), como na figuray(x,0)xApós um tempo t o perfil seria y(x, t). Temos assim uma perturbação que se desloca sem mudarde forma.Para uma observador que se desloca na direção x com a mesma velocidade do pulso, a forma dopulso não muda com o tempo. Na figura seguinte é mostrado o referencial O0 x0 y 0 deste observador,o qual coincide com Oxy em t 0.

91.2. ONDAS EM UMA DIMENSÃOy(x,t)y (x ,t)vtOxyxx O x y ou seja,y 0 (x0 , t) y 0 (x0 , 0) f (x0 )(1.2.1)y(x, t) f (x vt)(1.2.2)A função f (x0 ) descreve a forma estática do pulso, como vista pelo observador O0 . Levando emconta que x0 x vt e y 0 y 1 (transformação de Galileu na direção x), obtemosPortanto a onda progressiva se propagando para a direita é uma função que depende de x e tsomente através de x0 x vt, podendo ser uma função qualquer de x0 . Analogamente, uma ondase propagando para a esquerda será uma função de x vt.1.2.2Obtenção da Solução de d’AlembertUma conseqüência imediata de y(x, t) f (x vt) é que a Equação de Ondas (verifique)1 2y 2y 2 0v 2 t2 x(1.2.3)é satisfeita. Mais adiante mostraremos como essa equação pode ser derivada a partir das propriedades mecânicas de uma corda. Neste caso, y(x, t) representaria a deformação da corda nadireção perpendicular à corda.Nesta seção veremos como obter a solução da equação de onda (1.2.3). Para isso, primeiramentenotamos que a equação (1.2.3) pode ser reescrita como (verifique) 1 1 y(x, t) 0.(1.2.4)v t xv t xEssa forma sugere que façamos uma mudança para novas variáveis u e u , tais queu u 2.u u 2v(1.2.5)u x vt.u x vt(1.2.6)x tou, invertendo as equações,1 Note que na relação y 0 y estão implı́citos os respectivos argumentos das funções y 0 e y, ou seja, y 0 (x0 , t) y(x, t)

10CAPÍTULO 1. ONDASSubstituindo a regra da cadeia, x t u u x u x u u u t u t u v v u u u u (1.2.7)na equação (1.2.4), obtemos (verifique) 4 2y(u , u ) 0. u u (1.2.8)Integrando na variável u , y(u , u ) G(u ). u (1.2.9)Note que G(u ) é uma função qualquer que depende apenas de u . Integrando na variável u ,y(u , u ) f (u ) g(u ),(1.2.10)onde g(u )/ u ) G(u ) e f só depende de u . Voltando para as variáveis x e t, a equaçãoacima nos dáy(x, t) f (x vt) g(x vt).(1.2.11)Essa é a solução geral de d’Alembert.Solução geral em termos de condições iniciaisConsideremos as condições iniciais de posição e de velocidade dadas pory(x, 0) y(x, t) t y0 (x) y1 (x).(1.2.12)t 0A primeira condição nos informa qual é a forma inicial da corda. A segunda condição nos informaqual é a velocidade inicial de todos os pontos da corda.É interessante comparar as condições iniciais da corda com aquelas de uma partı́cula. Noteque na dinâmica de uma partı́cula as condições iniciais são a posição da partı́cula e a velocidade dapartı́cula. Ou seja, no caso de uma partı́cula as condições iniciais são a posição e a velocidade deum ponto; no caso de uma onda unidimensional, as condições iniciais são a posição e a velocidadedos infinitos pontos de uma linha.Como a equação de onda é de segunda ordem na derivada temporal, as duas funções y0 (x) ey1 (x) devem especificar completamente a evolução subseqüente. De fato, já sabemos, de acordocom a equação (1.2.11), que a solução geral deve depender de duas funções quaisquer. Podemosagora expressar, em t 0, as funções f (x) e g(x) em termos das condições iniciais em (1.2.12).De fato, usando (1.2.11) em (1.2.12), obtemosy(x, 0) y(x, t) t t 0 f (x) g(x) y0 (x)dgdf. v y1 (x)dx dx(1.2.13)

111.2. ONDAS EM UMA DIMENSÃOIntegrado a segunda equação,yR0 (x) f (x) g(x),xa y1 (s)ds v (g(x) f (x))(1.2.14)onde a é uma constante qualquer. Resolvendo para f (x) e g(x) 1 Rx1y0 (x) f (x) y1 (s)ds2 v a .1 Rx1y0 (x) g(x) y1 (s)ds2v a(1.2.15)Essas duas relações determinam completamente as funções f (x) e g(x) em termos das condiçõesiniciais y0 e y1 . Usando agora a equação (1.2.11), obtemos finalmente (verifique)111y(x, t) y0 (x vt) y0 (x vt) 222vZx vty1 (s)ds .(1.2.16)x vt(Observe que a constantede integração Ra é cancelada na soma das duas integrais em (1.2.15),R x vtay1 (s)ds x vt y1 (s)ds.) Verifique explicitamente que esta soluçãolevando em conta que asatisfaz a equação de onda e as condições iniciais.Exemplos Considere o seguinte exemplo de condição inicialy1 (x) vdy0.dx(1.2.17)Podemos mostrar que neste caso teremos uma onda se propagando para esquerda ou para adireita. De fato,Z x vtZZ1 x vt dy0111 y0 (x vt)y1 (s)ds dy0 (y0 (x vt) y0 (x vt)) .ds 2v x vt2 x vt ds2 y0 (x vt)2(1.2.18)Substituindo na equação (1.2.16) obtemosy(x, t) y0 (x vt).(1.2.19) Determine, para qualquer instante de tempo, a forma de uma corda tal que no instante inicialy0 A exp( x2 /L2 )(1.2.20)e y1 0.Exercı́cio:Um pulso ondulatório produzido numa corda tem a forma dada poryd (x, t) onde A 1, 00 cm e v 20, 0 m/s.A3,A2 (x vt)2(1.2.21)

12CAPÍTULO 1. ONDAS(a) Faça um desenho do pulso ondulatório em função de x para t 0. Até que ponto ao longoda corda o pulso se estende?(b) Faça um desenho do pulso para t 0, 001s.(c) No ponto x 4, 50 cm, para que tempo t o deslocamento é máximo, e para quais valores det esse deslocamento é a metade do valor máximo?(d) Mostre que a função acima é uma função de onda.(e) Responda os ı́tens acima para a funçãoye (x, t) A3A2 (x vt)2(1.2.22)e também para a combinação yd (x, t) ye (x, t).(f) Verifique explicitamente que yd (x, t) satisfaz a solução de d’Alembert (1.2.16).1.2.3Soluções harmônicasUma classe de soluções particulares, porém de interesse bastante geral, são as soluções harmônicasda formaih(1.2.23)y(x, t) Aei(kx ωt δ) , onde k, ω e δ são constantes reais, i 1 e denota a parte real. A constante real A é aamplitude da onda. A seguir veremos qual é o significado fı́sico de cada uma destas grandezas.Sabemos que, segundo a fórmula de Euler,y(x, t) [A cos(kx ωt δ) Asen(kx ωt δ)] A cos(kx ωt δ).(1.2.24)Embora pudéssemos ter escrito diretamente em termos do cos, há, como veremos, vantagens emse utilizar a exponencial complexa.Naturalmente deve existir uma relação entre k e ω para que (1.2.23) seja de fato uma soluçãoda equação de onda. Substituindo (1.2.23) em (1.2.3), obtemos verifiqueω kv .(1.2.25)Interpretação de ω e kEm uma dada posição do espaço (x fixo), o valor da função y(x, t) em (1.2.24) se repete após umintervalo de tempo igual a 2π/ω. Esse intervalo de tempo é denominado perı́odo2πτ .(1.2.26)ωAnalogamente, em um dado instante de tempo (t fixo) o valor da função y(x, t) em (1.2.24) serepete após um intervalo de distância igual a 2π/k. Esse intervalo é denominado comprimento deonda2πλ .(1.2.27)kUsando essas relações, podemos reescrever (1.2.25) comov λ λν,τ(1.2.28)onde ν 1/τ é a freqüência da onda.As grandezas k e ω são denominadas número de onda e freqüência angular, respectivamente.

131.3. EQUAÇÃO DA CORDA VIBRANTEFase da ondaA grandezaφ(x, t) kx ωt δ(1.2.29)é a fase da onda, sendo que δ é a constante de fase. Se acompanharmos um ponto tal que a fase éconstante, i.e., φ(x, t) φ0 constante, teremosdφdx k ω 0,dtdt(1.2.30)ou seja,ωdx v.dtkPortanto, um ponto de fase constante se desloca com a velocidade da onda.1.3(1.2.31)Equação da corda vibranteAté aqui, ainda não exibimos um sistema fı́sico que obedeça a equação (1.2.3). Faremos isso agoraconsiderando uma corda distendida possuindo uma densidade de massa linear µ(x) e tensionadapor uma tensão T (x) que não varia com o tempo. Vamos supor a situação idealizada de umacorda inextensı́vel sujeita a pequenas deformações. Nestas condições o ângulo formado pelas retastangentes à corda e o eixo x, ou seja, o ângulo θ na figuray(x,t)T(x x )θ (x x ) yθ (x) xT(x)x xxé muito pequeno.1.3.1Derivação da equação de ondaA força resultante que atua sobre o trecho de corda mostrado na figura acima é (não estamosconsiderando o pequeno efeito da força peso)FR T (x x)sen(θ(x x)) T (x)sen(θ(x)).(1.3.1)Para ângulos pequemos, podemos fazer a aproximaçãosen(θ) tan(θ) y. x(1.3.2)

14CAPÍTULO 1. ONDASSubstituindo (1.3.1) em (1.3.2), teremos y y(x x, t) T (x) (x, t). x xUsando a noção básica de derivada de uma funçãoFR T (x x)f (x x) f (x) f , x 0 x xlima força resultante em (1.3.4), para x 0 será y y 2y 2 y T y T x, x 2 T (x) T (x) 2 FR T (x) x x x x x x x x(1.3.3)(1.3.4)(1.3.5)onde foram desprezados os termos de ordem x2 . Essa força produz a aceleração do pequenotrecho da corda cuja massa ép m µ(x) x2 y 2 µ(x) x,(1.3.6)onde usamos novamente a condição de ângulos pequenos, de modo que y x. De acordo coma Segunda Lei de Newton (FR m 2 y/ t2 ) teremos, usando (1.3.5) e (1.3.6), 2 y T y 2yT (x) 2 x µ(x) 2 x.(1.3.7) x x x tCancelando x, obtemos 2 y T y 2y µ(x).(1.3.8) x2 x x t2Nos casos mais simples (e.g., uma corda de densidade uniforme, distendida sob a ação de umatensão T independente de x) a equação (1.3.8) se reduz aT (x) 2yµ 2y 0. x2 T t2(1.3.9)Velocidade de propagação da ondaComparando (1.3.9) com (1.2.3), vemos que a corda se movimenta segundo a equação de onda, eque a velocidade de propagação das ondas érTv .(1.3.10)µEsta bela equação relaciona as propriedades intrı́nsecas do meio (tensão e densidade) com a velocidade da onda. Quanto mais tensa for a corda, maior será a velocidade da onda. Aumentandoa densidade da corda a velocidade da onda diminui. É interessante usar o conteúdo fı́sico essencialdesta relação para inferir resultados em situações mais gerais, tais como o som. Veremos que,essencialmente, no caso do som, T e µ são substituı́dos respectivamente pela pressão de equilı́brioe pela densidade de equilı́brio. No caso em que o meio possui elasticidade compressiva e de cisalhamento, as ondas associadas (longitudinal para a compressiva e transversal para o cisalhamento)terão, em geral, velocidades distintas. Sabe-se que no caso de ondas sı́smicas, as oscilações longitudinais compressivas são mais rápidas do que as ondas transversais de cisalhamento. A partir destefato, podemos tirar conclusões sobre a elasticidade de cisalhamento relativamente a elasticidadede compressão 22Existem ainda mais dois tipos de oscilações sı́smicas, a saber, as superficiais e as ondas de Rayleigh.

151.3. EQUAÇÃO DA CORDA VIBRANTE1.3.2Intensidade da ondaPara produzir oscilações na corda é preciso fornecer energia (por exemplo, um oscilador é ligadoa uma das extremidades da corda). Na figura abaixo é mostrada a componente vertical da força,realizando trabalho sobre um pedaço da corda.TFyxPara pequenas deflexões da corda, podemos escreverFy T y. x(1.3.11)A potência transmitida é o produto da força pela velocidade, ou seja,P (x, t) Fy y y y T. t x t(1.3.12)No caso de uma onda progressiva se propagando para a direita (y(x, t) f (x vt)), teremos(verifique), df 2P (x, t) T v; u x vt.(1.3.13)du Note que na expressão acima T v já tem a dimensão correta de potência.Caso a onda progressiva seja harmônica, como na equação (1.2.23), então a equação (1.3.13)nos dáP (x, t) T vA2 k 2 sen2 (kx ωt δ).(1.3.14)Tomando a média temporal da equação acima,P 1τZt τP (x, t0 )dt0 ,(1.3.15)tobtemos (verifique)T vA2 k 2.(1.3.16)2A potência média da onda unidimensional é também denominada intensidade da onda ou seja,P I P T vA2 k 2.2(1.3.17)Usando v ω/k,I T ωkA2.2(1.3.18)

16CAPÍTULO 1. ONDASDe acordo com a relação (1.3.10) podemos expressar T em termos de µ e v, levando aI µv 2 ωkA2.2(1.3.19)Podemos ainda usar, novamente, vk ω e obterI 21 µvω 2 A2 .(1.3.20)Portanto, a intensidade transmitida pela onda harmônica é proporcional ao quadrado da amplitude,ao quadrado da freqüência e à velocidade de propagação.Consideremos agora a energia contida na onda. Um pedaço dx da corda possui energia cinética 2 211 y ydT dm µdx.(1.3.21)2 t2 tPortanto, a densidade linear de energia cinética é 2dT1 y µ.dx2 t(1.3.22)Considerando o caso de uma onda harmônica de amplitude A e freqüência ω, e tomando a médiatemporal, teremosdT1 µω 2 A2 .(1.3.23)dx4Note que o fator 1/2 extra vem da média do quadrado do seno.A energia potencial de dx é (lembrando que dx executa um movimento harmônico simples)11dU dmω 2 y 2 µω 2 y 2 dx.22(1.3.24)Portanto, a densidade de energia potencial édU11 dmω 2 y 2 µω 2 y 2 .dx22(1.3.25)Tomando a média temporal, como no caso de energia cinética, teremosdU1 µω 2 A2dx4(1.3.26)(neste caso, o fator extra de 1/2 vem da média do quadrado do coseno). Note que, que a médiada energia potencial é igual à média da energia cinética em (1.3.23). Esse resultado já foi obtidoanteriormente, quando estudamos o movimento harmônico simples. Somando (1.3.23) com (1.3.26),obtemos a densidade de energia média totaldEdTdU1 µω 2 A2 .dxdxdx2(1.3.27)Podemos agora relacionar a densidade de energia com a potência transmitida pela onda. Aenergia média contida em um elemento x da corda é E dE x.dx(1.3.28)

171.3. EQUAÇÃO DA CORDA VIBRANTEComo a onda percorre um intervalo x v t durante um intervalo de tempo t, a potênciamédia transportada será EdE xdE v.(1.3.29)P tdx tdxEssa potência dever ser igual à (1.3.17). De fato, podemos verificar isso usando (1.3.27). Assim,comparando (1.3.17) com (1.3.29), vemos queI vdE.dx(1.3.30)Ou seja, a intensidade é igual ao produto da velocidade pela densidade de energia média. Esseresultado nos informa que a intensidade é o fluxo médio de energia através de um ponto. Fluxoatravés de um ponto?. Pense um pouco sobre isso e tente “adivinhar” qual seria a generalizaçãode (1.3.29) para ondas em três dimensões. Note que no caso tridimensional o conceito de fluxo éo usual (energia por unidade de área por unidade de tempo).Exercı́cio:Uma corda está atada por uma extremidade a um ponto fixo. A outra extremidade passa poruma roldana que se encontra a 5 m da extremidade fixa, e segura uma carga de 2 kg. A massa dosegmento de corda entre a extremidade fixa e a roldana é de 0.6 kg.(a) Determine a velocidade de propagação das ondas transversais ao longo da corda.(b) Suponha que uma onda harmônica de 10 3 m de amplitude e 0.3 m de comprimento de ondase propaga pela corda; calcule a velocidade transversal máxima de qualquer ponto da corda.(c) Determine a taxa média de fluxo de energia (potência média) através de qualquer seção dacorda.1.3.3Princı́pio de SuperposiçãoSuponha que y1 (x, t) e y2 (x, t) sejam duas soluções quaisquer da equação de onda (1.2.3), ou seja,e1 2 y1 2 y1 0v 2 t2 x2(1.3.31)1 2 y2 2 y2 0.v 2 t2 x2(1.3.32)y(x, t) ay1 (x, t) by2 (x, t),(1.3.33)Então,com a e b constantes, também é solução de (1.2.3).Exercı́cio: Prove a afirmação do parágrafo anterior.Esse importante resultado denomina-se Princı́pio de Superposição e é válido em outros campos da Fı́sica tais como a Mecânica Quântica ou o Eletromagnetismo. Matematicamente é umaconseqüência direta da linearidade dapequação de ondas. A linearidade significa que não existemtermos na equação do tipo y(x, t)2 , ou y(x, t), ou cos(y(x, t)), etc, dentre inúmeras possibilidades.No exemplo da seção anterior (corda vibrante) foram omitidos termos de ordem superior emθ(x) que são muito pequenos para pequenas deflexões da corda. Para se ter uma idéia do grau de

18CAPÍTULO 1. ONDASnão linearidade que terı́amos no regime em que essa aproximação não pode ser usada, escrevemosabaixo a equação exata (com µ e T independentes de x)s 2 2 y y θµ 1 T cos(θ(x, t)) .(1.3.34)2 x t x(verifique) onde1 2 y1 xcos(θ) re(1.3.35) y.(1.3.36) xA partir da relação acima, podemos obter o termo seguinte da expansão de pequenos ângulos.Fazendo a expansão em série e mantendo o termo de segunda ordem, obtem-se" 2 # y 2y 2y(1.3.37)µ 2 T 2 1 2 t x xθ(x) tan 1Obviamente, já neste caso, o princı́pio de superposição deixaria de ser válido. De fato, o termoproporcional ao quadrado da derivada de y(x, t) é não linear.1.4Interferência de ondasVamos agora aplicar o princı́pio de superposição, para estudar os efeitos resultantes de adição deondas. Primeiramente vamos considerar os casos em que as ondas possuem a mesma freqüência e,conseqüentemente, o mesmo número de onda.1.4.1Duas ondas no mesmo sentidoConsideremos duas ondas harmônicas y1 (x, t) A1 exp[i(kx ωt δ1 )] A1 cos(kx ωt δ1 ).y2 (x, t) A2 exp[i(kx ωt δ2 )] A2 cos(kx ωt δ2 )(1.4.1)Ou seja, duas ondas se propagando para a direita com velocidade v ω/k, amplitudes A1 e A2 econstantes de fase δ1 e δ2 . De acordo com o princı́pio de superposiçãoy(x, t) y1 (x, t) y2 (x, t)(1.4.2)também é uma solução da equação da corda. Vejamos agora qual é a forma desta solução resultante.Fatorizando uma das exponenciais, (verifique) y y1 y2 exp[i(kx ωt δ1 )] (A1 A2 exp(iδ12 )) , {z}(1.4.3)δ12 δ2 δ1 .(1.4.4) Zonde introduzimos a diferença de fase

191.4. INTERFERÊNCIA DE ONDASO número complexo Z (A1 A2 exp(iδ12 )) pode ser reescrito na forma polar, comoZ A exp(iβ) A(cos(β) isen(β))(1.4.5)com A e β reais. A é o módulo de Z. Logo, de acordo com a figura abaixo,Im ZAβRe Z Z 2 A2 ( Z)2 ( Z)2 (A1 A2 cos(δ12 ))2 (A2 sen(δ12 ))2 A21 2A1 A2 cos(δ12 ) A22 cos2 (δ12 ) A22 sen2 (δ12 ) A21 A22 2A1 A2 cos(δ12 ).PortantoA pA21 A22 2A1 A2 cos(δ12 )O ângulo β indicado na figura acima é A2 sen(δ12 ) Z arctan.β arctan ZA1 A2 cos(δ12 )(1.4.6)(1.4.7)(1.4.8)Portanto, a combinação das duas ondas resulta emy y1 y2 A cos(kx ωt δ1 β).(1.4.9)Note que A em (1.4.6) é a amplitude da onda resultante a qual possui freqüência ω. Sendoassim, podemos obter a intensidade dessa onda, usando (1.3.20)1111I µvω 2 A2 µvω 2 A21 µvω 2 A22 µvω 2 2A1 A2 cos(δ12 ).2222Como as ondas y1 e y2 também possuem freqüência ω, podemos escreverpI I1 I2 2 I1 I2 cos(δ12 ) .(1.4.10)(1.4.11)Esta relação mostra um dos mais importantes fenômenos ondulatórios. Ele revela que a intensidade resultante pode ser diferente da soma das duas intensidades associadas a cada onda. Devidoao último termo em (1.4.11) pode ocorrer até mesmo uma interferência destrutiva. Por exemplo,considerando o caso em que as duas ondas possuem a mesma amplitude, terı́amos I1 I2 , resultando em uma amplitude resultante igual a 2I1 (1 cos(δ12 ). Portanto, se a diferença de fase forδ12 π, essa amplitude resultante se anula.Exercı́cio: Faça o exercı́cio 6 do capı́tulo 5 do HMN.Mostre Exercı́cio: que as amplitudes resultantes máxima e mı́nima são, respectivamente,( I1 I2 )2 e ( I1 I2 )2 . Determine os correspondentes valores de δ12 .

201.4.2CAPÍTULO 1. ONDASDuas ondas em sentidos opostos – Ondas Estacionárias INeste caso, as duas ondas componentes são y1 (x, t) A1 exp[i(kx ωt δ1 )] A1 cos(kx ωt δ1 ).y2 (x, t) A2 exp[i(kx ωt δ2 )] A2 cos(kx ωt δ2 )(1.4.12)Ou seja, a onda y2 está se propagando para a esquerda. Vamos primeiramente considerar o casomais simples em que δ1 δ2 0 e A1 A2 . Neste caso, a onda resultante seráy y1 y2 A(cos(kx ωt) cos(kx ωt)) 2A cos(k

Notas de aula do curso de F sica II Ondas, Relatividade e Termodin amica1 Fernando T C Brandt 23 de Abril de 2008 1As principais refer encias aqui adotadas s ao os volumes 2 e 4 (cap.6) do \Curso de F

Related Documents:

Aula 01- Conhecendo nosso espaço e nossa realidade 7 Atividade 01 9 Aula 02 - Revendo alguns conceitos 10 Atividade 02 12 Aula 03 - Observando os lugares na aula de campo 13 Atividade 03 15 Aula 04 - Descobrindo nossa história e nosso espaço 16 Atividade 04 19 Aula 05 - Debatendo e comentando sobre a Geografia e Religião no espaço mundial

Guiones y Fichas de trabajo 184 10. Adecuaciones curriculares para el aula multigrado. Contenidos comunes por ciclo o nivel 197 La enseñanza del Español en el aula multigrado 204 Matemáticas en el aula Multigrado 232 Las Ciencias Naturales en el aula multigrado 262 La Historia en el aula multigrado 275

Sistema de control DeltaV 7009 Curso básico 4.5 2-6 4-8 5-9 7017 Curso avanzado 4.5 16-20 18-22 2-6 7016 Curso batch 4,5 20-24 19-23 7018 Curso mantenimiento 4 23-26 8-11 16-19 7012 Curso operación 3 13-15 14-16 1-3 Sistema de Control Ovation OV-010 Curso de Operación 3 2-4 11-13 21-23 OV-100-WIN Curso de Ingenieria 4.5 23-27 22-26 26-30

La tutora del aula (PT) cumple un horario de 18 horas lectivas y la maestra de Audición y Lenguaje 9 horas lectivas en el aula específica. A continuación presentamos el horario del Aula Específica: 4. Objetivos - Afianzar y desarr

Al inicio del aula virtual - como Etapa de Planeación Durante el uso del aula virtual - como Etapa de Monitoreo Al final del uso del aula virtual - como Etapa de Evaluación 2.2.3 Frecuencia de uso de las herramientas de comunicación. Después de la Intervención Al finalizar el curso de Lec.1 Lectura Inferencial e Interpretativa Expresión .

CURSO DE FARMÁCIA – DISCIPLINAS DO SEGUNDO PERÍODO – 2020/1 Código Turma Nome da Disciplina Vagas Total Aula Dia Início Término Aula Dia Início Término Aula Dia Início Término BC035 A Biologia Cel e Tecid do Organ. Humano 30 Teórica TER 09h30 11h30 Práti

las notas de la enfermera registran descriptivamente la evoluciÓn de la persona. en algunos hospitales o centros de atenciÓn primaria , debe escribirse notas en cada turno. en general, las notas de la enfermera registran los siguientes tipos de informaciÓn: valoración de la persona por el distinto personal de enfermería (ej.

Revolution itself, and the events that immediately followed it. 2. Theoretical tools to help you interpret (explain/analyze) the American Revolution: You will learn basic revolutionary theory as it has been developed by historians and political scientists, and apply it to the American Revolution. 3.