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Belo Horizonte, julho de 2007 Periódico cultural do Café com Letras No 13 Ano II Tiragem: 1500 exemplares peça o seu café e tenha uma boa leituraLouis Armstrong

2Coluna do freDSe o Jazz não é um “que”, massim um “como”, como falar sobre jazz nessa edição? Como falar sobre algo que mais se sentedo que se define? Pego emprestado do próprio tema o termo.improviso. Mezzo-improviso,todo mês uma nova edição doLetras do Café fica pronta. Ummodo de dizer, talvez movidopela descontração e pelo imenso prazer que sempre vêm junto com cada colaboração, comcada palpite que acontece enquanto o jornal está no forno.Talvez no começo, há um ano,tenhamos podido falar de “improviso”. Tudo era novo, sabíamos pouco sobre os resultadosque estávamos atingindo. Maseles vieram, continuam vindo,e o que parecia improviso viroumétodo - divertido, prazeroso,em que se faz amizade enquanto se trabalha, ri-se muito e emque estresses se convertem emgraça. Se tem cara de improviso,já que a cada mês uma novidadese apresenta, que assim seja.Nesse mês a novidade chamouse Ivan Monteiro, nosso editorconvidado. Bam-bam-bam doJazz, à guisa de definição melhor, Ivan nos deleitou com seuconhecimento e sua simpatia,com suas boas idéias e sua disponibilidade - a mesma dos colaboradores, que fizeram suaslistas de preferidos, teceram impressões e também tiveram seusEditoria e Direção Geral:Carla MarinRodrigo JamesEditor Honorário:Bruno GolgherEditor Convidado:Ivan MonteiroRedação (esta edição):Fred GuimarãesIvan MonteiroNelson NascimentoWilson Garzoncompassos de solo, compondo amelodia que você começa a ouvir agora. Boa leitura, e a gentese encontra no Savassi Festival!Carla MarinO tema desta edição do Letrasdo Café é o jazz. Mas poderiatranquilamente ser a emoção.Ao ler as matérias e textos especiais aqui incluídos, o leitor vaise deparar com um turbilhãode sentimentos expelidos porseus autores, em que a forçamotriz é a música. Pensandobem, não poderia ser diferente.Todos nós somos diariamente bombardeados por música,vinda de todas as partes. A música está presente em nossas vidas em diferentes intensidades.Para os que aqui contribuíram,esta intensidade é elevada auma potência máxima, fazendoparte não somente de seus cotidianos, mas principalmente deseus subconscientes.Se deleitar com um bom discode jazz, se deixando levar pelasbelas melodias e nuances, é umprazer que muitos possuem,mas apenas poucos o entendemem sua plenitude. Esperamosque com mais este Letras doCafé tenhamos contribuídopara que sua compreensão deste processo tenha apelado parao lado emocional e deixado oracional um pouco de lado.Rodrigo JamesJornalista Responsável:Vinícius LacerdaTiragem: 1500 exemplaresImpressão: Gráfica FumarcAnúncios: para anunciar noLetras do Café, ligue 3234 3285,das 14:00 às 18:00.Letras do Café é uma publicação periódica da ONG InstitutoCidades Criativas - Rua Antôniode Albuquerque, 749, sala 705,Savassi - Belo Horizonte/ MG CEP 30112-010Mande um e-mail para o Letras do Café:letras@cafecomletras.com.brFred GuimarãesJazz ou Jazz?Está certo que a escritaé a mesma, mas a pronúncia não. A primeira vez que euouvi a pronuncia “jaz” e não atradicional “djez” foi do jornalista e mineiro Lucas Mendes,ainda quando apresentava matérias em programas especiaisda “platinada”. Confesso queachei muito legal! E mais tardevim a saber, por meio de umamigo, que esta maneira dedizer seria usada pora aquelesque entendem do assunto.Mais uma vez o Letras (achoque podemos assim denominar este periódico, é maissimpático e íntimo) tem comotema a música, agora num aspecto mais ímpar, já que aborda um determinado segmentodela. Quanto a mim, será a terceira vez que escrevo sobre otema, mas isso não esgota emnada falar sobre tão frutíferamodalidade artística. Afinal,música é prá tudo, como já meexpressei antes. E, mesmo sendo específico o tema, tambémuma edição, ou esta coluna,não conseguiria falar do dedoda unha do Jazz.Quando o Caetano Velosolançou aquele disco em quecantava em inglês alguns standards do jazz, declarou emvários meios de comunicação,justificando tal empreitada,que a melhor música produzida no mundo seria a americana. Como é de praxe, o quefoi dito, e, principalmente, porquem foi dito, virou alvo decríticas ferrenhas e calorosas.Ora, num ímpeto ufanista poderíamos achar ruim com ele,mas analisando de uma formamais madura, acredito, hoje,que ele tenha razão. E aindacreio que esta afirmativa docantor baiano tenha sua estacafirmada no jazz.A música americana tem duasexpressões que embalam omundo já faz tempo: o jazz e orock’n’roll. Ora, estes dois estilos são fontes inesgotáveis queaté hoje alimentam vários ar-tistas e produções musicais.O jazz, mais velho emais encorpado melodicamente, é influencia viva, ou comobase para as músicasmodernas de hoje, oucomo fonte inspiradora, ou como regravações de clássicos,literais ou mesmocom uma roupagemcontemporânea,com toda a tecnologia existente.O jazz embalou anossa maior expressão musical,a bossa nova. Oembalo,aindaque cadencialmente brasuca,deste estilo musical bebeu nafonte do jazz. Enão há menorvergonha ouqualquer idéiade imperialismo nisso.Como expressão de arte,o jazz devearrebentaras fronteirascom a suamelodiamuito prazerosa coma miscelânea do somde váriosinstrumentos musicais(fico imaginando aquelasbigbands americanas presentes emvários filmes).Escrevi um dia que a músicadeve ser ouvida em vários momentos da vida. O jazz, comoespécie daquela, tem lugarparticular neste ato, não sendoimportante aí a forma comovocê pronuncia, mas comocurte! Viva Cole Porter!Fred Guimarães é um dos imortais doCafé com Letras!

Belo Horizonte, julho de 2007Café com jazZSete discos para uma ilha desertaO Letras do Café pediu a sete especialistas no assunto que escolhessem sete discos de jazz para levarem para uma ilhadeserta. Alguns simplesmente listaram, outros escreveram textos apaixonados. O resultado é uma verdadeira aula.Ivan MonteiroCurador do Tudo é JazzÉ claro que esta história de ilhadeserta só funcionaria se houvesse eletricidade, um telhadopara proteger do sol e um sofá(ou até uma rede) para admirarmos a paisagem ao som dosdiscos escolhidos. É óbvio também que as escolhas de cada umde nós serão sempre diferentescada vez que tivermos que preparar as mochilas para este destino insular. Minha lista variade acordo com meu humor, edos sete discos abaixo dois outrês estariam sempre comigoindependente do estado de espírito do momento. À lista:Brad Mehldau: The Art OfThe Trio Vol.3Me lembro que quando recebieste disco dias depois de seulançamento, tive de refazer oOn The Jazz (programa queproduzi e apresentei na saudosa Rádio Geraes e que eu gravava com alguma antecedência)porque sabia que a música contida nele tocaria o coração demuita gente. Não deu outra. Aotérmino do programa recebi 6ligações de ouvintes emocionados com o som deste fabulosopianista.George Cables: Dark Side,Light SideCables tem dezenas de discosde excelente nível, mas este sedestaca dos demais pelo repertório: composições de Monk,Hancock e Ellington entre outros. Não é à toa o apelido dadopor Art Pepper a George: Mr.Beautiful. Como toca “bonito”!Grant Green – Idle MomentsÉ muito triste ver um artistacomo Green passar anos semo devido reconhecimento. Aolado de um de meus favoritos dosax tenor (Joe Henderson), e dovibrafone (Bobby Hutcherson)Grant Green fez um disco me-morável e uma versão definitiva para a clássica Django deJohn Lewis.Miles Davis – ‘Round AboutMidnightMiles,Coltrane,Garland,Chambers e Philly Joe. Ah-LeuCha, Dear Old Stockholm, ByeBye Blackbird, Tadd’s Delight,All Of You e ‘Round Midnight.Precisa dizer algo mais?Thelonious Monk – Monk’sDreamMonk é o epitome do jazz. Suasgírias, seu modo de vestir esuas composições resumem doque o jazz é feito.Nelson NascimentoProfissional de marketingMiles Davis - Kind of BlueDizer que é obra prima é repetirmuita gente, mas é inevitável.Primoroso trabalho, envolvente, vibrante, melodioso. Umtrabalho de equipe como poucos, tremenda integração entremúsicos geniais em momentosublime. Não se pode viversem algo assim, e este disco éum dos exemplos máximos detudo isso.Wayne Shorter – NightDreamerSeis composições de Shorter, oaudaz Lee Morgan no trompete, McCoy ao piano e o “cavalo”Elvin Jones na bateria. Gravadono Van Gelder, com produçãode Alfred Lion, foto de FrancisWolff e design de Reid Miles.um clássico.Round Midnight – TrilhaSonora do FilmeEste filme foi tão importantena minha vida que levaria suatrilha para qualquer lugar domundo. Dexter Gordon, HerbieHancock, Chet Baker cantando e no trompete, FreddieHubbard, Shorter arrancandolágrimas em The Peacocks.Monk Alone – The complete Columbia Solo StudioRecordings - TheloniousMonkPara mim significa entrar no cérebro de um arquiteto e quaseparticipar de sua criação. Eleparece estar conversando consigo mesmo e nos convida a entrar no jogo. Um assombro deperfeição técnica, conectada àsemoções, com surpreendentesusos do silêncio. Dá para ouvirvezes seguidas.Chet Baker & Paul Bley- DianeExiste algo mais lírico? Amelhor definição de intimismo.Ao primeiro sopro do trompete já se pode perceber que aívem algo que te fará calar paraouvir. Esse é um disco que batebem no fundo do coração, eque se deve ouvir de preferência tomando um bom scotch,ao lado da mulher amada.John Coltrane - A LoveSupremeUma conexão direta com o divino em nós, o trabalho musical mais religioso que conheço.Não é algo que se possa simplesmente por para rodar. Temque ser ouvido em contrição,deixar-se envolver pela viagemproposta. Pode ir sem preocupação com bilhete de volta, vaichegar melhor do que quandocomeçou. E detalhe: se tivermais alguém em casa avise quevocê não está.Bill Evans – ExplorationsAqui acontece de novo umaenorme integração entre os músicos. Combina bem com um(ou dois) conhaques, e pode serouvido com mais, ou menos,atenção. Com menos vai se sentir, de repente, tomado por alguma coisa que te chama a entrarna música. Com mais, sentiráalgo mudando em torno, talvezaté sinta algum cheiro que nãosabe de onde veio. Não se assuste: a boa arte provoca essascoisas, é veículo para sentir omundo de outras formas.Keith Jarret - The KolnConcertParece que ele se propôs o desafio de ligar alta técnica a totalimproviso e provocar emoçõesfortes. Já chorei várias vezesouvindo essa jóia. Embarquesem medo. E repita daqui auns meses. Esse disco é sempresurpreendente.Hermeto Pascoal - Missa dosEscravosUma fantástica construção.Ponto por ponto o Campeãomostra por que é chamadoBruxo, passeando por ritmos eharmonias tão variados quanto surpreendentes e belos,resultando num todo equili-brado e delicioso de se ouvir.Criatividade em bruto, é ummanifesto à boa música e à alegria.Outros.My Goals Beyond – JohnMcLaughlinDança das Cabeças – EgbertoGismontiCláudio OliveiraSócio da Guanabara RecordsLouis Armstrong - A MusicalAutobiographyA faixa “Struttin’ with SomeBarbecue”, ouvida na casa dotio Hélio, inoculou em mimo incurável vírus do jazz.Além disso, a formação comArmstrong, Earl hines, BarneyBiggard e Jack Teagarden é oprimeiro “combo” de virtuosesda história do jazz.Charles Mingus - Mingus,Mingus, MingusO primeiro LP (lembram?) quecomprei com meu próprio dinheiro, aos 15 anos. Detestei.Após uns dois anos de amadurecimento, Mingus se tornou,desde então, meu músico favorito. Neste disco você poderáouvir tudo: blues, work songs,spirituals, bebop, música ditaerudita, baladas, amor, raiva,passado, presente e futuro.Benny Carter - FurtherDefinitionsNinguém escreve para o naipe

4Café com jazZde saxes como Benny Carter.Duke Ellington e Thad Jonesbeberam dessa fonte. E, convenhamos, um naipe com BennyCarter, Phil Woods e o pai,Coleman Hawkins, é sublime!Oliver Nelson - The Blues andthe Abstract TruthArranjos e composições doOliver Nelson tocados porFreddie Hubbard, Eric Dolphye Bill Evans. Precisa explicar?Carmen McRae - Sings MonkMinha cantora favorita cantando um dos três melhores compositores da história do jazz,Thelonious Monk. Os outros sãoDuke Ellington/Billy Strayhorne Wayne Shorter. De quebra, otenor do Clifford Jordan.Duke Ellington - And HisMother Called Him BillDisco-tributo de Duke a Billy,após sua morte. Cada um fazendo o que fez de melhor:Duke liderando e arranjando eBilly compondo.Miles Davis - Frank Ténot présente Miles Davis: CDLivrePois é, não foi o “Kind of Blue”.O livreto traz encartado um CDdo concerto do quinteto clássico de Miles, com Coltrane,Wynton Kelly, Paul Chamberse Jimmy Cobb, no Olympia em21 de março de 1960. É tudo oque a gente já esperaria de bom,com destaque para um Coltraneabsolutamenteenlouquecido, virado na porra (obrigadoBahia!), levando os standardsa limites ainda não ultrapassados. O contraste entre a doçurado trompete do Miles, a elegância do piano do Wynton Kellye o experimentalismo desvairado do Coltrane definem, paramim, o melhor que o jazz tem anos oferecer.Enéias XavierContrabaixista e compositorVou tentar manter o nível.se a opção é levar discos de jazzpra ilha.Miles Davis - Kind of BlueBill Evans - You must believein springMichael Brecker - MichaelBreckerKeith Jarret - Standards 1Weather Report - HeavyWeatherMiles Davis - AmandlaMarcus Miller - TalesLuis Orlando CarneiroJornalista e escreve sobre jazz àssextas feiras no Jornal do BrasilEsse negócio de lista dos discosou livros que a gente levariapara uma ilha deserta é fogo!Mais ou menos por ordem cronológica, importância histórica,realização como obra-prima epor ligação estético-sentimental - tudo isso junto - eu levariapara uma ilha deserta:Louis Armstrong - Satchmoat Symphony Hall (Decca original, em CD tenho em Giantsof Jazz)Gravado em 1947, naquela salade concertos de Boston. Pramim, é a melhor apresentaçãoao vivo de Louis Armstrong,no cume de seu engenho earte, ao lado de Jack Teagarden(tb), Barney Bigard (cl), Big SidCatlett (bt), Arvell Shaw (baixo)e Dick Cary (piano). Foi também o primeiro LP de jazz queme encantou, ao ouvi-lo porvolta de 1954, quando ainda estudava piano clássico. Eu só ouvia música clássica - de Bach aStravinsky e Bartok - e descobricom Armstrong e seus All Stars,nesse disco, a riqueza do grande rio do jazz, no qual passeia navegar - da nascente (KingOliver, Jelly Roll, early Duke),passando por Charlie ParkerDizzy Gillespie, até a vanguarda(de Ornette, Mingus, Coltrane àArt Ensemble of Chicago, CecilTaylor, Fred Anderson, a vanguarda européia, etc.).Duke Ellington - TheIndispensable DukeEllington. Vols. 5,6 (RCA)Contém as obras-primas dachamadaWebster-BlantonBand (1940-41), entre elas a misteriosa “Ko-ko” e on “Concertofor Cootie”, fora os duetosEllington-Blanton.As matrizes Savoy de CharlieParker.São 25 faixas fundamentais, dasquais nunca me separo, gravadas entre 15/9/44 e 24/9/48,incluindo as obras-primas“Koko”, “Donna Lee”, “Billie’sBounce” e “Now’s the time”.Parker poderia ter morridodepois de gravar essas faixase já teria sido o maior gênio, omaior improvisador de todosos tempos. Naquela época, oMiles Davis ainda tateava notrompete ao lado do “Bird”,e não teve técnica suficientepara a intro de “Koko” - quecontém o mais inebriante solode Charlie Parker. Sempre queo ouço fico de porre - no bomsentido da palavra.Charles Mingus Pithecanthropus Erectus”(Atlantic), de 1956Charles Mingus à frente de umquinteto (Jackie McLean, J.R.Monterose, Mal Waldron, maisWillie Jones na bateria). É o expressionismo jazzístico pré-freejazz aparecendo na terra comoo primeiro humanóide a ficarde pé (como queria expressarMingus). Sempre que apago aluz e ouço a faixa-título (maisde 10 minutos) e “Love Chant”(15 minutos) entrego minhaalma e meu cérebro a Mingus(É claro que queria botar nalista outros discos de Mingus,mas aí não cabem outros tãoimprescindíveis pra mim comominha mulher.).Miles Davis - ‘Round aboutmidnight (Columbia), de 1956O quinteto de Miles DavisColtrane. (É claro que “Kind ofblue” é mais sofisticado, massou viciado no LP em que tocamtambém Red Garland, PhillyJoe Jones e Paul Chambers).John Coltrane - A LoveSupreme” (Impulse)Opus magna do Coltrane, semdiscussão. Tão “divina”, pramim, como o teto da CapelaSixtina, a Nona de Beethovene o Sacre du Printemps deStravinsky.Ornette Coleman - SoundGrammarEstou apaixonado pelo último CD de Ornette Coleman,“Sound Grammar” (premiado,aliás com o Premio Pulitzer demúsica). Modéstia à parte, obtive o disco e comentei-o no JBGazeta Mercantil antes de serelevado às alturas. O Denardonão é apenas filho de Ornette;é um dos mais criativos bateristas vivos. O uso de dois baixos (Greg Cohen em pizzicato,Tony Falanga só com o arco),num processo interativo constante é uma sacada incrível, eo Ornette é um improvisadorcompositor único e extraordinário. By the way, o disco foigravado ao vivo, em 2005, numconcerto na Alemanha. (Nãodeu para entrar na lista outroCD mais ou menos recente peloqual sou também apaixonado:“Concert in the Garden”, daMariaSchneider.Carlos CalladoJornalista e colaborador da Folhade São PauloEssas escolhas sempre são meiodifíceis. Então decidi tomar opedido ao pé da letra: imagineium kit jazzístico para enfrentardiferentes situações na supostailha.Miles Davis - Kind of Blue(Columbia, 1959)Perfeito para acompanhar qualquer viagem, não importa omeio de transporte.Ella Fitzgerald - Sings the ColePorter Songbook (Verve, 1956)Com Ella cantando ao fundo,qualquer cabana vira um resort.John Coltrane - Ballads(Impulse, 1962)Para os momentos românticos,sem um pingo de pieguice.Cassandra Wilson - Blue Light‘til Dawn (Blue Note, 1993)Um vozeirão sublime para ouvir de madrugada, até o solraiar.Archie Shepp & HoraceParlan - Goin’ Home(Steeplechase, 1977)Spirituals para elevar o espírito,na hora da angústia.Thelonious Monk - MonkAlone (Columbia, 1962-1968)Quem entende mais de solidãodo que o louco Monk?Moacir Santos - Ouro Negro(MP,B, 2001)Para matar a saudade do Brasil,ou do que ele tem de mais precioso.David BenechisUm dos editores do blog CharutoJazz Uísque:charutojazz.blogspot.comO critério é simples e objetivo:discos seminais para a históriado jazz.Miles Davis - Kind of Blue(Columbia)Mais fiel - e palatável - traduçãodo modalismo engendrado porGerge Russel e incorporado portoda a geração do post-bop eavant-garde, diexando marcasindeléveis em toda a produçãojazzística que viria até os diasde hoje. Nenhum dos temas temestrutra “chordal”, sem, contu-

Belo Horizonte, julho de 2007Café com jazZdo, fugir - e nisto está uma desuas preciocidades - do blues,marcante em todos os temas.Bill Evans - Quintessence(Fantasy)Poucas vezes Bill foi para oestúdio, como líder, ladeadoquase que só de músicos negros. Isto acontecera, antes, em“Loose Blues”, dos anos 60, jácom resultados extraordinários. Mas em “Quintessence”,escoltado por Harold Land (tenor sax), Kenny Burrell (guitar),Ray Brown (bass) e Philly JoeJones (drums), miraculosa obrade arte foi articulada.Bom lembrar que, na carreira de Evans- novamente como líder - poucas são as gravações em combo, já que o formato trio (99%com músicos brancos) acaboupredominando em sua extensadiscografia.Ornette Coleman - Free Jazz(Atlantic)A autêntica revolução - no sentido mais puro do termo - nogênero, infelizmente ainda nãototalmente reconhecida pelosjazzófilos, talvez por demandarouvidos menos superficiais.Reinvenção da improvisaçãocoletiva do jazz tradicionaldos anos 20 e 30, só que emoldurada pelas influências damúsica clássica contemporânea (Stravinsky, Messiaen,Schoenberg, Berg, Webern, etc.)e, novamente, da música modal.A genialidade do album, entretanto, prende-se, na verdade, ajamais abrir mão do blues, porisso permancendo fidelíssimoao jazz e, com tudo isso, reinventando-o, repito. Influencioutudo quanto depois se fez.Complete Savoy and DialCharlie Parker RecordingsO auge do criador da linguagem de improvisação do jazzmoderno, pelo maior improvisador da história do jazz.Duke Ellington, CharleMingus, Max Roach - MoneyJungle (Blue Note)Reunião descompromissada e ainda um tanto underrrated- de três dos maiores gênios dojazz, que dispensam a) comentários e - para esta ou qualqueroutra sessão - e b) ensaios. Ostrês no auge absoluto, estão impossíveis. Um disco para ouvirmuitas e muitas vezes.Bill Evans Trio - Sunday atthe Village Vaguard / Waltzfor Debby (The 1961 VillageVaguard Recordings)Há quem considere o maisimportante e revolucionárioregistro da clássica formaçãopiano/baixo/bateria de todosos tempos. Bill eLa Faro assombraram o mundo do jazz comsimbiose única,perfeitamentecompreendidapor Motian.LouisArmstrong- The CompleteLouisArmstrongHot Five &Hot SevenRecordingsA mais pura,completa e superior academiade jazz, notadamente fazendoa ponte entre ojazz tradicional eo moderno.Ouvir Jazz:uma conversão para a vidaO relato de um amante de Jimi Hendrix que se converteu ao Jazz após descobrir John ColtraneNelson NascimentoPara começar, devo contar oque pode parecer improvávelpara quem me conhece: até os13 anos eu praticamente nãoouvia música e achava issoalgo no mínimo supérfluo(para situar: o ano era 1971,plena ditadura). Meu despertar foi com Jimi Hendrix, queouvi na casa de primos maisvelhos. A grande porrada foi“Third stone from the sun” eme envolveu de tal forma queem poucas semanas já buscavaoutros trabalhos dele e da turma do recém revelado rock.Assim vivi pelos quatro anosseguintes, e após descobrirdezenas de bons grupos, dohard ao progressivo, de BlackSabbath a King Crimsom,sempre voltava ao Hendrix econstatava: esse cara é melhor.Resolvi saber mais, e entreuma e outra leitura soube queele ouvia um sujeito chamadoJohn Coltrane. Jazz.Eu não sabia o que era aquilo.Mas fiquei com essa informação na cabeça. Um dia topo,numa liquidação na antigaLojas Gomes, com um LP dele.Arrisquei. Afinal, se Hendrixo ouvia, por que não eu?Lembro como se fosse hoje omomento em que ouvi aquelasmúsicas. Era uma coletânea,e tinha “My favourite things”, “Naima”, “Giant steps”,“Olé”. Nada menos que umapassagem para o outro mundo, sem precisar de nadamais que parar, fazer silêncioe prestar atenção. Foi umagrande revelação, uma proposta (que aceitei com o maisprofundo de minha alma) deconhecer o mundo com outrosouvidos e olhos. Encontrei noJazz um jeito de me aproximarde mim mesmo, de melhorarcomo pessoa. Ali estava a conexão religiosa que eu aindanão havia vivido com tal intensidade. Transcendência eraa palavra para o que passou afazer de minha vida. A partirdali, procurei avidamente portudo que estivesse ligado aoJazz e à musica instrumental.E repeti a fórmula: o que algum músico que eu passavaa gostar ouvia? Buscava ouvirtambém, comprava e seguianavegando por esses novosmares e ares. Descobri um tipode arte imperfeita, música queacontece durante o fazer, queexige alta entrega dos músicose de quem ouve, que tem noimproviso um jeito de ser e explora os vazios, que às vezesme deixa sem ar. Que me fazchorar.E sigo assim, encontrandopessoas com sentimentos parecidos pelo caminho. Se vocêse perguntar como pode serisso, proponho que se permita viajar essa viagem. E desejomuitos encontros.

6Café com jazZFestivais: um pouco de tudoPara falar sobre os festivais de jazz em Minas Gerais, Wilson Garzon faz uma verdadeira viagem no tempo e na história do gênero no Brasil e no mundo.Wilson GarzonUm Pouco de JazzO que diferencia um amantedo jazz dos outros amantesmusicais é que ele navega porsons criativos, inesperados eestimulantes. A arte do improviso é única e alcança a suagrandeza no jazz. É ela que fazdo jazz um estilo singular, diferenciado e criativo. Pode-seamar os instigantes solos deMiles Davis quanto se deleitarno swing de Benny Goodman.Em New Orleans, o jazz nasceu de um caldeirão musicalformado pelo ragtime, blues,marchas e funerais. Duranteo processo da sua gestaçãoparticiparam artistas comoBolden e Oliver, mas quandoele nasceu deram-lhe o nomede Louis Armstrong. A estrada que levou o jazz de NewOrleans na direção de Chicagoe New York foi pavimentadapor Duke, Basie, Goodman epor músicos que tinham muito swing.Quando a grande guerraacabou, o jazz alcançou suamaioridade, pelas mãos deParker, Dizzy, Miles, Coltranee Coleman, que munidos deideologias e improvisos inovadores, levaram o jazz alémdas fronteiras tonais, bebopeando hard e cool, com muitaliberdade. Nos anos 60 veioa crise de meia-idade e o jazzprocurou alternativas: mudoude continente, nações, linguagens, ritmos e harmonias.Encontrou uma segunda juventude: simplificou-se pelaeletrônica crossover, ficourico, cercado de fãs e interesses nem sempre criativos, semmuitos valores a seguir.Um dia, nos anos 80 uma novaseita surgiu comandada pelosMarsalis e os jovens leões, pre-gando o retorno aos tempos daprimeira maturidade. Desdeentão, o jazz caminha portrilhos seguros, seja ele conduzido por veteranos comoShorter & Rollins, seja ele instigado pela ousadia da novasafra como Melhdau, Hersch,Elling e Marsalis Brothers.Apesar de tudo, o jazz feitona matriz ainda está longe deuma aposentadoria.Um Pouco de BrasilEm todas as suas etapas devida o jazz plantou sementes por muitos países. NoBrasil não foi diferente, emque pese a ausência de umaeducação musical. Em vez doragtime de Joplin, tivemos ochoro de Nazareth; em vezda Dixieland Jazz Band, tivemos Pixinguinha; em vez deGlenn Miller tivemos SeverinoAraújo. Como disse o mestreJobim, as três culturas musicais mais ricas no mundo sãoa norte-americana, a cubana ea brasileira.Mas nossa forma bem brasileira de fazer jazz começou defato com a bossa nova, que depois de beber na veia do cool,revitalizou o jazz americanodos anos sessenta. Nossos músicos buscaram rotas próprias,indo beber nos mananciais dosamba, choro, maracatu, frevo,no coreto e em toda essa ciranda de estilos e talentos que povoam nosso país. Hoje o Brasiljunto com a Itália são os paísesmais ricos em conteúdo jazzístico. Só com uma diferença:somos um continente musical,dono de uma riqueza inesgotável de talentos, ainda não explorados em sua justa medida.Um Pouco de FestivalDurante os anos 60, o Brasil viveu a cultura dos festivais demúsica brasileira, patrocina-dos pelas tvs, principalmentea Excelsior, Record e Tupi.Mas o jazz só surgiu como festival na segunda metade dosanos 80, já sob a égide da LeiSarney. O Free Jazz foi fundamental para a disseminaçãoda cultura instrumental brasileira, trazendo músicos comoMiles Davis, Wynton Marsalis,WayneShorter,HerbieHancock e Sonny Rollins, nomesmo espaço onde se apresentam gênios como HermetoPaschoal, Egberto Gismonti,Leo Gandelman, Paulo Mourae Toninho Horta.Com o tempo, o Free Jazz ficou mais free que jazz, distanciando-se do seu conceitooriginal. Esse sentido mercadológico prossegue ainda hojeno Tim Festival, que dedicaapenas um palco aos interessados em jazz. Por outro lado,a Lei Rouanet possibilitou osurgimento de diversos eventos voltados para o jazz. Osdestaques fora de nosso esta-do ficam com o GuaramirangaJazz & Blues no Ceará, O Riodas Ostras Jazz & Blues, GoyazFestival e o Búzios Festival.Um Pouco de Minasa sua sexta edição. O mais antigo é o Ipatinga Live Festival,que está caminhando parasua nona edição. Outros festivais que se destacam sãoTim Valadares, Santa Bárbara,Ibitipoca Jazz Festival, BDMGInstrumental, BH Jazz Festival,Claro Minas Instrumental e oSavassi Festival.Minas Gerais é hoje, juntocom São Paulo, o grande centro da música instrumentalbrasileira. Centro onde habitam talentos como ToninhoHorta,NivaldoOrnelas,Cléber Alves, Juarez Moreira,Enéias Xavier e outros tantosmúsicos de primeira grandeza. Além da sua importância,Minas é o estado abençoadopor onze festivais. Isso se deveem grande parte à vocaçãocultural do estado, onde artistas, veículos de comunicação,empresários e políticos trabalham integrados dentro dopropósito de oferecer eventosde qualidade.O Clube de Jazz é um site aberto a todos que amam a músicabrasileira de qualidade, sejam negros, brancos, amarelos ou azuis, sejam de Minas,Brasília, Rio ou São Paulo. Aporta está sempre aberta, cadavez mais escancarada, para receber amigos e fazer uma ponte ligando aquele que faz comaquele que está sedento parasaber e ouvir uma música dequalidade.O maior de todos e tambémdo Brasil, é o Tudo É Jazz deOuro Preto, que fará esse anoWilson Garzon é um dos responsáveis pelo site Clube de Jazz (www.clubedejazz.com.br)Um Pouco do Clube de Jazz

Belo Horizonte, julho de 2007Café com jazZA mágica do “ao vivo” Para tudo na vidaIvan Monteiro relembra algumas casas que foram palco de bons momentos do jazz em BHIvan MonteiroJazz é ao vivo. Tá certo que temmuito disco bom nestes maisde cem anos de jazz, mas nadase compara à música sendo feita ali, na hora, quentinha. BeloHorizonte não tem uma históriatão rica de shows de jazz quantoRio ou São Paulo mas tivemosaqui muita gente boa que devemos sempre lembrar. Primeirodevemos fazer um breve apanhado dos bares e restaurantes quejá tiveram a coragem de colocarjazz em seu cardápio sonoro.Nivaldo Ornellas conta que noEdifício Maletta no final dosanos 1960 existiu o mitológicoBerimbau, bar que tinha comobanda fixa: Paschoal Meirellesou Paulo Braga na bateria, MiltonNascimento no baixo, HelviusVilela ou Wagner Tiso ao piano,Figo Seco no trompete e Nivaldono sax. O porteiro tinha apelidode Art Blakey por ser parecermuito como o indomável baterista norte americano.norte americano, para uma pequena temporada.Depois vieram o Pianíssimoe o Cabaré Mineiro, que trouxe Wayne Shorter e WyntonMarsalis, cuja banda ao dar umavolta no alto da Afonso Pena tevesua van (na verdade uma Kombi)incendiada acidentalmente.Dizzy Gillespie, Charles Mingus,Bill Evans, Elvin Jones, FreddieHubbard, Modern Jazz Quartet,Gerry Mulligan, Betty Carter, JoeHenderson, Paquito D’Rivera,Pat Metheny, Mike Stern e DaveHolland. Todos estes já passaram por esta capital. Bons tempos aqueles em que BH recebiapelo menos duas vezes por anoum grande nome do Jazz.O Janis também marcou época,assim como o Alameda Jazz doCacá, que realizou vários tributos a Miles Davis e trouxe atéBennett Brandeis, guitarristaO Café com Letras com ChicoAmaral e seus Perseguidorescontinuou honrando a tradiçãode se ouvir Jazz em BH pelo menos um dia na semana.Ivan Monteiro é estudioso do jazz.existe um

Bam-bam-bam do Jazz, à guisa de definição me-lhor, Ivan nos deleitou com seu conhecimento e sua simpatia, . Quando o Caetano Veloso lançou aquele disco em que cantava em inglês alguns sta

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Armstrong of doping [See Seven Deadly Sins: My Pursuit of Lance Armstrong, by David Walsh, for a thorough recounting of these events]. After several rounds of lawsuits from Armstrong attempting to ban their investigation, the USADA prevailed. When Armstrong declined to continue his defense against USADA, it was taken as a tacit admission of guilt.

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