Origami: História De Uma Geometria Axiomática - ULisboa

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UNIVERSIDADE DE LISBOAFACULDADE DE CIÊNCIASDEPARTAMENTO DE MATEMÁTICAOrigami:História de umaGeometria AxiomáticaLiliana Cristina Nogueira MonteiroMestrado em Matemática para o Ensino2008

UNIVERSIDADE DE LISBOAFACULDADE DE CIÊNCIASDEPARTAMENTO DE MATEMÁTICAOrigami:História de umaGeometria AxiomáticaLiliana Cristina Nogueira MonteiroMestrado em Matemática para o Ensino2008Orientador: Professor Doutor Jorge Nuno Monteiro de Oliveira e Silva

Palavras-chave: Origami; Geometria Axiomática; Geometria Euclidiana; Axiomas;Trisecção do Ângulo; Construções Geométricas; Comparação de GeometriasResumo:O Origami é famoso por ser uma arte japonesa para dobrar papel. No entanto,vai para além disso.Nesta obra serão relatadas a história do Origami enquanto arte, a evolução doseu estudo pela Matemática, as suas possíveis aplicações no nosso quotidiano e, emparticular, no ensino da Matemática.Vista por esta ciência, a Geometria do Origami baseia-se em reflexões numafolha de papel, que podem ser estendidas a um plano. Serão identificadas as setepossibilidades para uma única dobragem de Origami, que constituem os Axiomas deHuzita-Hatori, e analisar-se-á o que representa rigorosamente cada um desses axiomas.Demonstrar-se-á ainda que esta lista de axiomas abrange todos os casos possíveis paraas dobragens únicas, ou seja, a lista é completa com os sete axiomas e, caso se retirealgum deles, deixa de o ser.Através das dobragens, baseadas nos referidos axiomas, irá realizar-se aresolução dos problemas clássicos da trisecção do ângulo e da duplicação do cubo,impossíveis com a Geometria Euclidiana. Mais genericamente, será demonstrado que épossível resolver quaisquer equações de grau igual ou inferior a três com a Geometriado Origami. Mostrar-se-á ainda uma dobragem que permite a construção do númeroirracional π e serão efectuadas construções que permitem demonstrar: o Teorema dasoma das amplitudes dos ângulos internos de um triângulo, o Teorema de Pitágoras e oTeorema de Haga.Após estas demonstrações, construir-se-ão alguns Origamis geométricos, asaber: Tsuru (garça que simboliza esta arte); os polígonos regulares quadrado, triângulo,pentágono e hexágono; e as cónicas parábola, elipse e hipérbole.Por fim, serão efectuadas algumas comparações desta com outras geometrias.Mais precisamente com: Geometria Euclidiana, Geometria dos Fósforos, Geometria doCompasso, Geometria da Régua, Geometria do Compasso Enferrujado, Geometria daRégua e do Compasso Enferrujado, e Geometria da Régua Marcada. Mostrar-se-á que aII

Geometria do Origami permite efectuar todas as construções das restantes geometriasanalisadas e supera todas elas, à excepção da Geometria da Régua Marcada, sendo queesta última permite as mesmas construções que o Origami.III

Key-Words: Origami; Axiomatic Geometry; Euclidean Geometry; Axioms; AngleTrisection; Geometric Constructions; Geometries ComparisonSummary:Origami is famous for being a Japanese art to fold paper. However, it goesmoreover.In this paper will be revealed the history of the Origami while art, the evolutionof its study in Mathematics, its possible applications in our day-to-day life and, inparticular, in the Mathematics education.Seen by this science, the Geometry of Origami is based on reflections in a sheetof paper that can be extended to a plan. The seven possibilities for one only Origamifolding will be identified. Those constitute the Axioms of Huzita-Hatori, and will beanalyzed rigorously. It will also be demonstrated that this list of axioms encloses all thepossible cases for one single folding, this is, the list is complete with the seven axiomsand, in case of one of them be removed from the list, it stops being complete.Through folding, based on the related axioms, this paper will show how to solvethe classic problems of trisecting an angle and duplicate the cube, impossible inEuclidean Geometry. More generically, it will be demonstrated that it is possible tosolve any equations of degree equal or lower than three with Origami’s Geometry. Itwill still reveal a folding procedure that allows the construction of the irrational numberπand constructions that allow to demonstrate the theorems: of addition of theamplitude of the internal angles of a triangle, Pythagoras Theorem and Haga’s Theorem.After these demonstrations, will be constructed some geometric Origamis, moreexactly: Tsuru (bird that symbolizes this art); the regular polygons square, triangle,pentagon and hexagon; and conics parabola, ellipse and hyperbole.Ultimately, some comparisons of this with other geometries will be made. Moreexactly with: Euclidean geometry, Matches Geometry, Compass Geometry, RulerGeometry, Rusted Compass Geometry, Ruler and the Rusted Compass Geometry, andMarked Ruler Geometry. Will be revealed that Origami’s Geometry allows achievingall constructions of the remaining analyzed geometries and surpasses all of them, withIV

the exception of Marked Ruler Geometry, once this last one allows the sameconstructions that the Origami.V

Índicepág.1. Introdução11.1. Definição de Recta61.2. Definição de Ponto72. Descrição Axiomática do Origami82.1. Os Axiomas de Huzita-Hatori92.2. Explicação dos Axiomas112.3. Principais Consequências dos Axiomas222.3.1. Resolução de Equações Quadráticas222.3.2. Resolução de Equações Cúbicas272.3.2.1. Trisecção do Ângulo292.3.2.2. Duplicação do Cubo322.3.3. Resolução de equações de grau superior a três342.4. Prova de que a Lista de Axiomas é Completa393. Construção de π através do Origami434. Alguns teoremas e suas demonstrações454.1. Soma dos ângulos internos de um triângulo454.2. Teorema de Pitágoras464.1. Teorema de Haga485. Construção de alguns Origamis geométricos515.1. Tsuru515.2. Quadrado545.3. Triângulo equilátero565.4. Pentágono595.5. Hexágono61VI

5.6. Parábola625.7. Elipse635.8. Hipérbole656. Comparação com Outras Geometrias6.1. Geometria Euclidiana6.1.1. Geometria Euclidiana vs Geometria do Origami6.2. Geometria dos Fósforos6.2.1. Geometria dos Fósforos vs Geometria do Origami6.3. Geometria do Compasso6.3.1. Geometria do Compasso vs Geometria do Origami6.4. Geometria da Régua6.4.1. Geometria da Régua vs Geometria do Origami6.5. Geometria do Compasso Enferrujado6.5.1. Geometria do Compasso Enferrujado vs Geometria do Origami6.6. Geometria da Régua e do Compasso Enferrujado6666697276808188899495966.6.1. Geometria da Régua e do Compasso Enferrujado vs Geometriado Origami6.7. Geometria da Régua Marcada6.7.1. Geometria da Régua Marcada vs Geometria do Origami7. Referências Bibliográficas97100101105VII

1. IntroduçãoA palavra Origami tem origem japonesa ( 折り紙 ) e provêm de duas palavras:Oru (que significa dobrar) e Kami (que significa papel).Originalmente, a palavra Origami era utilizada para identificar documentos empapel, dobrados de forma especial, para evitar cópias não autorizadas. Assim, o Origamirepresentava uma certificação do documento ou objecto que acompanhava. [And04]Actualmente, utilizamos esta designação para identificar a arte de dobrar papel.Esta nova definição para a palavra teve a sua origem num culto religioso por volta doséculo IV. Nesta época, a dobragem do papel era utilizada como representaçãosimbólica do espírito religioso e era exibida em grandes santuários como objecto deveneração. A partir do final do século VIII, o Origami passou também a ser visto comoum passatempo e um desafio. Deixou de estar limitado ao Japão, e surgiram váriasdobragens com formas muito diversas, que foram evoluindo até aos nossos dias.[Gra07]No Origami tradicional, o papel utilizado para as dobragens tem a formageométrica de um quadrado, que pode ter várias cores, de forma a permitir a construçãode objectos mais apelativos. No entanto, a forma do papel não é uma característicaobrigatória. De facto, a regra principal do Origami é: Desde que não se corte, nem secole, a imaginação é o único limite! [App02]Podemos ter vários tipos de Origami, a duas ou a três dimensões:- Origami simples, que se obtém ao fazer dobragens diversas num pedaçode papel;- Origami composto, que se obtém por união de vários origami simples;- Origami modular, que consiste num origami composto em que as peçassão todas geometricamente iguais.Para efectuar dobragens de papel, existem hoje vários livros de modelos para aconstrução de algumas figuras. Em todos estes documentos, existe uma simbologia,relativamente universal, que funciona como instruções dos referidos modelos:1

SímboloSignificadoExemplodobrar e vincarvoltar ao passoanteriordobrar em valedobrar emmontanhadobrar edesdobrardobrar em escadaDobar e voltar adobrarvirar o modelo aocontrário2

SímboloSignificadoExemplomudar de direcçãodobrar para foradobrar para dentrodesenho aumentadopuxarempurrarsoprar3

Já no final do século XX, os matemáticos começaram a interessar-se pelosfundamentos desta arte. Para esta ciência, a criação dos modelos no origami nãodepende da inspiração, mas sim de perceber os conceitos e as limitações da geometriaeuclidiana, propriedades das figuras geométricas, simetrias, ângulos, rectas,comunicação matemática, entre outros. Salientam-se, hoje em dia, na prática e estudo doOrigami, vários tópicos de relevo:- a sua geometria e relação desta com outras geometrias, em particular,com a Geometria Euclidiana;- o problema do alisamento da dobragem, isto é, se um modelo pode serdesdobrado. A dobragem de um modelo alisável foi provada porMarshall Bern e Barry Hayes como sendo um problema NP completo;- o problema do Origami rígido, isto é, a possibilidade de construção dosmodelos se o papel for substituído por metal. Por exemplo, a dobragemMiura, que está representada abaixo, é uma dobragem rígida que temsido usada para painéis solares de satélites no espaço.Também o ensino utiliza cada vez mais o Origami. De uma forma geral, adobragem de papel permite desenvolver, entre outros, a destreza manual, o sentidoestético de arte e a comunicação. Em particular, no ensino da Matemática, o Origami éutilizado para:- sentido de forma, tamanho e cor;- fundamentos de geometria;- conceitos e vocabulário Matemático;- simetrias, congruências e ângulos;- fracções, razões, proporções e medições,- resolução de problemas, com espírito analítico e crítico;- investigação de objectos tridimensionais e relações espaciais;- exploração de padrões e estabelecimento de relações.4

Vamos, ao longo deste trabalho, estudar a geometria do Origami e a sua relaçãocom outras geometrias. Para tal, é necessário começar por definir o espaço em quevamos trabalhar e os vários elementos deste espaço.Vamos então definir que o nosso espaço de trabalho é um pedaço de papel planoque, na maioria dos casos, tem a forma de um quadrado (as excepções serão indicadasna devida altura). No entanto, o raciocínio que utilizaremos, pode ser aplicado a todo oplano, como se a nossa folha de papel fosse, afinal, todo plano IR 2 ou .Neste espaço, podem existir rectas e pontos, que iremos definir seguidamente.5

1.1. Definição de RectaEm Origami, as rectas são criadas através de vincos resultantes de dobragens dopapel. Cada recta divide o papel em duas regiões distintas, que iremos designar porregião estacionária e região de movimento [Lang03]. A correspondência entre a regiãoe a sua designação é arbitrária, uma vez que a sua utilidade é unicamente de distinção.Uma recta pode ser definida de várias formas.Um dos procedimentos corresponde a um dos Axiomas da GeometriaEuclidiana, a saber, através de dois pontos passa uma e uma só recta. Note-se que estadefinição nos permite definir uma recta por quaisquer dois pontos da mesma.Uma segunda forma de definir uma recta provém da sua equação reduzida obtidaalgebricamente com coordenadas cartesianas, a saber: y mx b , onde m é o declive(tangente da inclinação) e b a ordenada na origem dessa mesma recta. A recta fica entãodefinida como o conjunto dos pares ordenados ( x, y ) que satisfaçam a equação. Noentanto, esta definição tem também um problema inerente, uma vez que não permitedescrever rectas paralelas ao eixo das ordenadas, por o seu declive ser infinito e aordenada na origem indefinida. Estas rectas terão então de ser definidas separadamente,com equações do tipo x a .Esta definição permite-nos verificar que as rectas têm dois graus de liberdade,uma vez que dependem de dois parâmetros que podem variar independentemente.Uma recta pode ainda ser definida através de vectores. Comecemos então pordefinir um vector unitário como U (α ) : (cos α , sin α ) com α [0º ,180º[ a suainclinação. Uma recta define-se como o conjunto de todos os pontos P que satisfazem aequação(P dU (α )).U (α ) 0 ,onde d IR e a operação . representa o produtointerno. Deste modo, uma recta é uma função l (d , α ) , que depende dos parâmetros d eα.Saliente-se que a definição anterior pode ser apresentada de uma outra forma. Defacto:(P dU (α )).U (α ) 0 P.U (α ) dU (α ).U (α ) 0 6

P.U (α ) d 0 ,pelo que é possível definir uma recta como sendo o conjunto de pontos P quesatisfazem a equação P.U (α ) d 0 .Além do que já foi apresentado, sendo P ( x, y ) um vector e considerandoP ( y, x ) um seu vector perpendicular, podemos ainda definir uma recta comosendo o conjunto de pontos P que satisfazem a equação P dU (α ) tU (α ) paraalgum t IR .1.2. Definição de PontoA intersecção de duas rectas não paralelas constrói um ponto.Um ponto P é então é um par ordenado ( x, y ) em IR 2 .Deste modo, podemos verificar que um ponto tem, tal como uma recta, doisgraus de liberdade, uma vez que as suas duas coordenadas podem variarindependentemente.7

2. Descrição Axiomática do OrigamiNa década de 1970 começaram a realizar-se estudos para enumerar as possíveisdobragens em Origami e a estudar combinações entre elas. Destacou-se nesta áreaHumiaki Huzita, que descreveu seis operações básicas para definir um único vinco que,por si só, alinha várias combinações de pontos e rectas já existentes. Estas seisoperações tornaram-se conhecidas por Axiomas de Huzita e forneceram a primeiradescrição formal do tipo de construções geométricas possíveis com origami.Mais tarde, em 1989, Jacques Justin publicou um artigo em que apresentava nãoseis, mas sim sete combinações possíveis com uma única dobragem. No entanto, foiapenas em 2002, quando Koshiro Hatori apresentou uma dobragem que não era descritapelos axiomas de Huzita, que surgiu formalmente um sétimo axioma.Os sete axiomas tornaram-se conhecidos por Axiomas de Huzita-Hatori e vieramabalar o mundo científico do origami relativamente à completude da lista.Em 2003, o físico americano Robert Lang dá a dúvida por terminada. Afirmaque não existem mais axiomas e publica, na sua página da internet, um estudo quedemonstra a sua convicção.Dentro da teoria matemática de construções geométricas do origami, os seteaxiomas de Huzita-Hatori definem o que é possível construir com uma única dobragem,fazendo incidir combinações de pontos e rectas.8

2.1. Os Axiomas de Huzita-HatoriAxioma 1: Dados dois pontos, P1 e P2, há uma dobragem que passa pelos dois pontos.Axioma 2: Dados dois pontos, P1 e P2, há uma dobragem que os torna coincidentes.Axioma 3: Dadas duas rectas, l1 e l2, há uma dobragem que as torna coincidentes.Axioma 4: Dados um ponto P e uma recta l, há uma dobragem perpendicular a l quepassa por P.9

Axioma 5: Dados dois pontos, P1 e P2, e uma recta, l, se a distância de P1 a P2 for igualou superior à distância de P2 a l, há uma dobragem que faz incidir P1 em l eque passa por P2.Axioma 6: Dados dois pontos, P1 e P2, e duas rectas, l1 e l2, se as rectas não foremparalelas e se a distância entre as rectas não for superior à distância entre ospontos, há uma dobragem que faz incidir P1 em l1 e P2 em l2.Axioma 7: Dado um ponto, P, e duas rectas, l1 e l2, se as rectas não forem paralelas, háuma dobragem que faz incidir P em l1 e é perpendicular a l2.10

2.2. Explicação dos AxiomasPara efectuar uma explicação analítica dos axiomas da geometria do Origami esuas consequências, vamos considerar um referencial ortonormado na folha de papel naque pretendemos realizar as dobragens.Axioma 1: Dobragem única por dois pontosConsideremos os pontos P1 ( x1 , y1 ) e P2 ( x 2 , y 2 ) .Este axioma resume-se a uma dobragem pela recta que passa pelos doispontos dados inicialmente, ou seja, é equivalente a resolver equações deprimeiro grau.De facto, pretende-se encontrar os valores de m e b na equação y mx b ,sendom y 2 y1x 2 x1b y1 m x1ou, equivalentemente, b y 2 m x 2Axioma 2: Dobragem única que torna dois pontos coincidentesConsideremos os pontos P1 ( x1 , y1 ) e P2 ( x 2 , y 2 ) .Este axioma refere-se a uma dobragem pela mediatriz do segmento de rectadefinido pelos dois pontos iniciais, sendo também equivalente a resolverequações do primeiro grau.Para tal é necessário determinar uma recta perpendicular à que é definidapelos dois pontos dados inicialmente e que passa pelo ponto médio do segmentodefinido pelos mesmos. Assim, uma vez que o referido ponto médio é dado x x 2 y1 y 2 pelas coordenadas 1, , basta realizar uma dobragem pela recta2 2y mx b ondem x 2 x1y 2 y1eb y1 y 2x x2 m 12211

Axioma 3: Dobragem única que torna duas rectas coincidentesConsideremos as rectas l1 : y m1 b1 e l 2 : y m2 b2 .Se l1 e l2 forem paralelas, é necessário realizar uma dobragem por uma rectaparalela às iniciais e que se encontre à mesma distância de ambas.Analiticamente, é necessário começar por escolher um ponto de uma das rectasiniciais. Sem perda de generalidade, seja P1 ( x1 , y1 ) , pertencente à recta l1.Temos dois casos a considerar, a saber: m1 0 ou m1 0 .Comecemos por ver o que se passa se m1 0 .Neste caso, as rectas iniciais são da forma l1 : y b1 e l 2 : y b2 , pelo queP1 (x1 ,b1 ) . A recta perpendicular a l1 que passa em P1 é dada pela equaçãox x1 , sendo portanto P2 ( x1 ,b2 ) o seu ponto de intersecção com a recta l2.Resta então realizar a dobragem que torna os pontos P1 e P2 coincidentes, talcomo é descrito no axioma 2.Vejamos agora o que se passa para m1 0 .Neste caso a recta perpendicular a l1, é dada pela equação de primeiro grau:y 11x x1 y1 m1 m1O ponto de intersecção P2 entre esta última recta e l2 é solução do sistema: 1 1x x1 y1 y m1 m1 y m x b22 1 1x x1 y1 m 2 x b2 m1 m1 y m x b22 12

1 1 x x1 y1 b2 m2 m1 m1 y m x b22 1 x1 y1 b2 m1 x 1 m2 m1 y m2 x b2 x1 y1 m1 b2 m1 x m2 m1 1 x y1 m1 b2 m1 y m2 1 b2 m2 m1 1x1 y1 m1 b2 m1 x m2 m1 1 x m y1 m2 m1 b2 m1 m2 b2 m1 m2 b2 y 1 2 m2 m1 1x1 y1 m1 b2 m1 x m2 m1 1 x1 m2 y1 m2 m1 b2 y m2 m1 1 x y1 m1 b2 m1 x1 m2 y1 m2 m1 b2ou seja, P2 1,m2 m1 1m2 m1 1 . Resta então realizar a dobragem que torna os pontos P1 e P2 coincidentes, talcomo é descrito no axioma 2.13

Vamos agora supor que l1 e l2 não são paralelas. Neste caso, basta fazer abissecção de um dos ângulos definidos pelas duas rectas.Comecemos então por determinar o ponto P0 de intersecção das duas rectas: y m1 x b1 y m2 x b2 m x b2 m1 x b1 2 y m 2 x b2 (m m1 )x b1 b2 2 y m 2 x b2b1 b2 x m m21 b1 b2 y m2 b2 m2 m1b1 b2 x m2 m1 m2 b1 m2 b2 m2 b2 m1b2 y m2 m1b1 b2 x m m21 m2b1 m1b2 y m2 m1Donde b b2 m2 b1 m1b2P0 ( x0 , y 0 ) 1,m2 m1 m2 m1 . Dereferirqueesteprocedimento é possível pois as rectas não são paralelas, pelo que m1 m2 e,consequentemente, m2 m1 0 .Consideremos então uma circunferência nãodegenerada de centro P0 e raio arbitrário,digamosr,dada( x x 0 )2 ( y y 0 )2pelaequação: r2.P1,1P2,1P0P2,2P1,2l2l1Esta circunferência vai intersectar asrectas l1 e l2 em quatro pontos distintos (dois14

pontos em cada uma das rectas). Sejam P1,1 (x1,1 , y1,1 ) e P1, 2 (x1, 2 , y1, 2 ) ospontos resultantes da intersecção a circunferência com a recta l1, eP2,1 (x 2,1 , y 2,1 ) e P2, 2 (x 2, 2 , y 2, 2 ) os pontos resultantes de intersecção dacircunferência com a recta l2.Vamos agora, sem perda de generalidade, determinar os pontos médios M 1 eM 2 dos segmentos de recta [P1,1 P2,1 ] e [P1, 2 P2, 2 ], respectivamente. Note-se quetambém poderíamos fazer o raciocínio que se segue para os segmentos de recta[PP1,1 2 , 2] e [P1, 2P2,1 ] . x1,1 x 2,1 y1,1 y 2,1 x x 2, 2 y1, 2 y 2, 2 e M 2 1, 2Temos que M 1 ,,2222 . Resta então realizar a dobragem que passa pelos pontos M1 e M2, tal como édescrito no axioma 1.P1,1P2,1P0P2,2P1,2l2l1Note-se que a circunferência utilizada na explicação anterior é apenasauxiliar. Os pontos que foram determinados com o seu auxilio, poderiamtambém sê-lo através da adição de vectores, com a direcção de ambas as rectas ecom ambos os sentidos, ao ponto de intersecção das mesmas. Deste modo,também neste axioma, apenas estão envolvidas equações de primeiro grau.Repare-se ainda que existem duas formas de efectuar a dobragem para o casodas rectas iniciais não serem paralelas (uma para cada par de ângulos opostos) eapenas uma para o caso de rectas paralelas.15

Axioma 4: Dobragem única, perpendicular a uma recta, que passa por um pontoConsideremos o ponto P ( x, y ) e a recta l : y mx b .Para encontrar a recta por onde deve ser realizada a dobragem, começa-sepor considerar uma circunferência de centro P e raio superior à distância de P al, para que esta intersecte l em dois pontos distintos, digamos A e B.Posteriormente, consideram-se as circunferências de centro em A e B,respectivamente, e raio igual à distância entre estes dois pontos.Resta então realizar a dobragem que passa pelos pontos A e B, tal como édescrito no axioma 2 para obtermos o pretendido.Axioma 5: Dobragem única que faz um ponto incidir numa recta, passando poroutro ponto.Consideremos os pontos P1 ( x1 , y1 ) e P2 ( x 2 , y 2 ) e a recta l : y m b .Pretende-se neste axioma determinar uma dobragem que coloca P1 sobre l eque passa por P2. Deste modo, pretendemos encontrar a intersecção da recta coma circunferência de centro P2 e raio P1 P2 .Vamos calcular essa intersecção, designando P1 P2 : r : y mx b 222()()xxyyr 22 y mx b 222 ( x x 2 ) (mx b y 2 ) r y mx b 222222 1 m x (2mb 2 x 2 2my 2 )x x 2 b 2by 2 y 2 r 0()()Deste modo, podemos ter zero, uma ou duas soluções para o problema,consoante o valor do discriminante da fórmula resolvente seja inferior, igual ousuperior a zero, respectivamente.Caso a distância de P1 a P2 seja inferior à distância de P2 a l, o discriminanteé menor que zero, pelo que não existem soluções e é impossível efectuar adobragem pretendida.16

Se a distância de P1 a P2 for igual à distância de P2 a l, o discriminante ézero, pelo existe uma única solução.Suponhamos agora que a distância de P1 a P2 é superior à distância de P2 a l,ou seja, o discriminante é maior que zero. Neste caso existem dois pontos deintersecção entre a circunferência e a recta l, digamos I1 e I2. As soluções doproblema são então:- dobragem perpendicular a [P1 I 1 ] e que passa no seu ponto médio(que vai fazer coincidir os pontos P1 e I1, passando por P2);- dobragem perpendicular a [P1 I 2 ] e que passa no seu ponto médio(que vai fazer coincidir os pontos P1 e I2, passando por P2).Em ambos os casos, a dobragem é efectuada pelo método descrito no axioma1, utilizando para tal o ponto médio de cada um dos segmentos referidos e oponto P2.Repare-se que, na prática, o que realizamos neste axioma é determinar arecta tangente à parábola de foco P1 e directriz l, que passa pelo ponto P2.Vamos provar esta afirmação: Quando fazemos uma dobragem por P2 de formaa P1 incidir em l, uma parte da recta l vai ficar dobrada noutra direcção que não ainicial. Consideremos então a recta perpendicular a l na sua direcção dedobragem, que passa por P1, digamos r. Uma vez que P1 não pertence a l, vemque a direcção de l após a dobragem não é paralela à sua direcção inicial.Consequentemente, r não é paralela à recta de dobragem e podemos determinaro ponto de intersecção entre ambas, digamos I. Por construção, a distância de I a17

l é igual à distância de I a P1 e é o único ponto da dobragem com estapropriedade. Uma vez que uma parábola é, por definição, o lugar geométrico dospontos equidistantes de um ponto e de uma recta, provámos que a recta dedobragem é tangente à parábola de foco P1 e directriz l.De referir ainda que este é o primeiro axioma desta lista que necessitaefectivamente da resolução de uma equação de segundo grau (para adeterminação dos pontos de intersecção da recta inicial com a circunferência).Axioma 6: Dobragem única que faz dois pontos incidir em duas rectas distintas.Consideremos os pontos P1 e P2 e as rectas l1 e l 2 . Pretendemos determinaruma dobragem que faça incidir P1 em l1 e P2 em l2.Uma vez que pretendemos fazer incidir P1 em l1, a dobragem quepretendemos fazer será tangente à parábola de foco P1 e directriz l1, como foivisto na explicação do axioma 5. Por outro lado, uma vez que pretendemos fazerincidir P2 em l2, a dobragem que pretendemos fazer será tangente à parábola defoco P2 e directriz l2. Deste modo, este axioma consiste em encontrar uma rectasimultaneamente tangente a duas parábolas distintas.Vejamos agora que este procedimento é equivalente a resolver uma equaçãode terceiro grau. Para tal, vamos considerar, sem perda de generalização, quel1 : y 1 e P1 (0, 1) . Designemos por P 1 (t , 1) o ponto em que P1 incidena recta l1 através da dobragem pretendida.A recta criada pelo vinco é a mediatriz dosegmento de recta[P1 P 1 ]uma vez que, porconstrução, todos os seus pontos são equidistantesde P1 e de P 1 , pelo que o vinco e o segmento derecta são perpendiculares. Além disso, o pontomédiode[P1 P 1 ]temascoordenadas18

0 t 1 1 t , , 0 . Deste modo, a equação do vinco realizado com a2 2 2dobragem é dada por:y 1 t tt2 x y x 1 1 2 24t 0Por definição do vinco que pretendemos, temos que o ponto médio de[P2 P' 2 ] pertence a essa recta, ondeP2 (a, b ) e P' 2 ( x, y ) é o ponto em queP2 incide na recta l2 através da dobragem pretendida. Designemos este ponto x a y b por M , . Substituindo na equação do vinco vem que:2 2y b t x a t2 22 24Além disso, uma vez que, como já foi visto, este vinco é tangente a duasparábolas, os declives de [P1 P '1 ] e de [P2 P ' 2 ] são iguais, ou seja: 2 y b t x aDeste modo, substituindo na equação anterior:y bx a x a (x a ) 2y b 2( y b )22() ( y b )( y b ) x 2 a 2 ( y b ) 2( x a )22que é uma equação cúbica (sendo y 3 e x 2 y os termos de terceiro grau).De referir que pode ser impossível resolver este problema (se as duas rectasiniciais forem paralelas e a distância entre elas for superior à distância entre osdois pontos) ou pode haver uma única solução.19

Axioma 7: Dobragem única que faz um ponto incidir numa recta, através de umadobragem perpendicular a uma outra recta.Consideremos o pontoP (x0 , y 0 )e as rectasl1 : y m1 b1el 2 : y m 2 b2 . Pretendemos determinar uma dobragem que faça incidir P eml1 e que seja perpendicular a l2, o que é equivalente a resolver equações deprimeiro grau.Comecemos por notar que este problema apenas tem solução se as rectasiniciais não forem paralelas. Vamos por isso supor que estamos perante estecaso.Consideremos a recta paralela a l2, que passa por P, a saber r:y m2 x ( y 0 m2 x0 ) .As rectas l1 e r intersectam-se quando y m1 x b1 y m2 x ( y 0 m2 x0 ) y m1 x b1 m1 x b1 m2 x ( y 0 m2 x0 ) y m1 x b1 y m2 x0 b1 x 0 m1 m 2y 0 m2 x0 b1 b1 y m1m1 m2 y m2 x0 b1 x 0 m1 m 2m1 y 0 m1 m2 x0 m2 b1 y m1 m 2 y 0 m2 x 0 b1 x m1 m2 y m2 x0 b1 m1 y 0 m1 m2 x 0 m 2 b1 .Ou seja, intersectam-se no ponto I 0,m1 m2 m1 m 2 20

Resta então realizar a dobragem que torna os pontos P e I coincidentes, talcomo é descrito no axioma 2, para obtermos o pretendido. Repare-se que esteprocedimento resolve o problema pois nessa construção fazemos a dobragempor uma recta perpendicular a [PI ] e, consequentemente, perpendicular a l2.21

2.3. Principais Consequências dos AxiomasAs principais consequências dos sete axiomas prendem-se com a resolução deequações quadráticas e cúbicas através do origami.2.3.1. Resolução de equações quadráticasNo axioma 5, utilizamos equações de segundo grau, pelo que nos é possívelresolver algumas destas equações. Vamos agora mostrar que podemos resolver todas asequações quadráticas através do Origami [Alp00].A fórmula resolvente diz-nos que podemos determinar as raízes das equaçõesquadráticas através das operações de adição, subtracção, multiplicação, divisão e raizquadrada. Deste modo, basta provar, algebricamente, que o conjunto de pontos do planoque são possíveis de construir através do Origami contém o menor subcorpo fechadopara estas operações.De forma a simplificar a demonstração, vamos assumir que a nossa folha depapel é infinita e que representa o plano complexo . Consideremos ainda segmentos derecta de comprimento unitário nos eixos real e imaginário.Facilmente se verifica que podemos efectuar adições e subtracções decomprimentos de segmentos através de dobragens.Para demonstrar esta afirmação, vamos provar que, dados um ponto P e umsegmento de recta [AB ], podemos construir um segmento de recta com o mesmocomprimento e a mesma direcção do inicial, que comece ou termine em P. [Alp00]Comecemos por supor que P não pertence à recta AB. Realizamos então adobragem que passa pelos pontos P e A e a dobragem que passa pelos pontos P e B.Obtemos assim um triângulo.PpConsideremos a recta perpendicular a ABDbque passa por A (possível pelo axioma 4) e a rectaperpendicular a esta última que passa por P.AB22

Obtemos assim uma recta, digamo

- Origami composto, que se obtém por união de vários origami simples; - Origami modular, que consiste num origami composto em que as peças são todas geometricamente iguais. Para efectuar dobragens de papel, existem hoje vários livros de modelos para a construção de algumas figuras. Em todos estes documentos, existe uma simbologia,

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